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Crítica

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho | Crítica

Daniel Ribeiro transforma a história de Leo em longa-metragem, sem perder a química e a graça do curta

11.02.2014, às 18H04.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

A melhor forma de descrever Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, estreia de Daniel Ribeiro como diretor de longas-metragens, seria dizer que trata de amor. De forma mais intensa, o filme retoma os personagens, o elenco e a história do curta Eu não Quero Voltar Sozinho, de 2010, que ganhou prêmios em festivais e depois repercutiu no YouTube, onde tem quase 3 milhões de visualizações.

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Com mais tempo e mais recursos, o diretor pode explorar de forma sensível a sexualidade e as dificuldades para conquistar a independência de Leo (Ghilherme Lobo), um adolescente que nasceu cego. O filme teve sua estreia ontem na mostra Panorama do Festival de Berlim e foi fortemente aplaudido pelo público.

Sem nenhuma autocomiseração e com um humor certeiro, o longa mostra Leo e sua amiga inseparável Giovana (Tess Amorim) vendo suas vidas mudar após a chegada de Gabriel (Fabio Audi) à escola. O trio logo fica muito próximo e, como em qualquer triângulo amoroso, adulto ou juvenil, o ciúme é incontornável: está nas ações da amiga que defende Leo com unhas e dentes, na superproteção da mãe, na compreensão do pai que busca dialogar e, especialmente, na aproximação com o novo amigo.

Um ponto muito tocante do filme é a naturalidade com que o próprio Leo passa a tratar a sua cegueira com a chegada do novo amigo. Seja pela força do hábito ou por nem lembrar que o menino é diferente, Gabriel vive cometendo gafes do tipo "já viu aquele vídeo famoso?". No lugar de causar constrangimento, a total falta de dedos do amigo impulsiona Leo a buscar novas experiências, antes impensadas, como ir ao cinema ou sair de casa no meio da madrugada, sem avisar, para "ver" um eclipse.

A partir desses momentos, o contato com o mundo passa a ser uma urgência, como na vida de qualquer adolescente, mas no caso de Leo tudo se torna mais agudo - é a descoberta de um amor que nada vê, apenas sente. Para poder explorar esse lado mais "epidérmico" da relação dos meninos, Ribeiro diz que esperou até todo o elenco completar 18 anos, antes de filmar. Ainda bem, porque a química dos três segue tão boa quanto no curta e as atuações dos jovens são leves e nada exageradas, só mais intensas.

O filme, que tem lançamento no Brasil previsto para 28 de março, pega bem leve com a forma como a homossexualidade ainda é encarada, especialmente do lado de fora. Leo sofre bullying dos colegas mais pela cegueira do que por qualquer outra coisa. As brincadeiras de mau gosto, no entanto, nem chegam perto do que adolescentes gays de verdade enfrentam. Em algum momento, o espectador talvez se questione sobre essa suposta falta de contundência, mas não é nada que diminua ou prejudique a delicadeza e a força da narrativa. Até porque Hoje Eu Quero Voltar Sozinho não é um filme sobre aceitação, é um filme extremamente sensível sobre o que faz do amor, amor, não importa como for.

Acompanhe a nossa cobertura do Festival de Berlim

Nota do Crítico
Ótimo
Hoje eu Quero Voltar Sozinho
Hoje eu Quero Voltar Sozinho
Hoje eu Quero Voltar Sozinho
Hoje eu Quero Voltar Sozinho

Ano: 2014

País: Brasil

Classificação: 12 anos

Duração: 96 min

Direção: Daniel Ribeiro

Elenco: Ghilherme Lobo, Fabio Audi, Selma Egrei, Tess Amorim, Eucir de Souza, Júlio Machado, Naruna Costa

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