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Filmes
Crítica

Hedda: Tessa Thompson brilha em adaptação irregular de Nia DaCosta

Entre intrigas e relacionamentos complexos do filme, atuações centrais são de imenso valor

Omelete
4 min de leitura
06.10.2025, às 08H00.
Hedda

Créditos da imagem: Amazon MGM Studios

É uma pena que Hedda esteja sendo lançado diretamente no Prime Video no Brasil (em 29 de outubro). O filme da Amazon MGM Studiosdirigido e escrito por Nia DaCosta (Candyman), imediatamente salta aos olhos com uma fotografia repleta de texturas, vida e todo o tipo de coisa que sofrerá na compressão de imagem para um serviço de streaming. Exibido na telona no Festival do Rio, Hedda estava em casa no cinema.

Semelhantemente, o papel de Hedda Gabler, eternizado na peça homônima do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, está imediatamente em casa nas mãos de Tessa Thompson. Especialmente, é preciso dizer, esta versão de Hedda Gabler. Uma espécie de meio termo entre o texto clássico e algo como Bridgerton, a adaptação de Nia DaCosta existe num equilíbrio quase impossível entre a linguagem formal e rebuscada dos dramas de época e a energia afiada e psicossexual de histórias mais contemporâneas sobre relacionamentos complexos e intrigas interpessoais. Não é que os personagens de Hedda falem como eu e você, mas há algo inconfundivelmente moderno, em especial na atuação, em suas entregas.

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E destas, nenhuma é melhor que a de Thompson, englobando uma mulher de mil emoções – ciúme, desejo, ganância, medo – em seus olhos cuidadoso e precisos, calculando cada movimento de Hedda Gabler (não ouse a chamar de Hedda Tesman) como alguém preparando seu próximo ataque num intenso jogo de xadrez. A metáfora de peças num tabuleiro é apropriada para a festa que seu marido George Tesman (Tom Bateman) dá na mansão para a qual os recém-casados acabaram de se mudar, uma enorme propriedade que pertencia ao falecido General Gabler, que teve Hedda fora do casamento, e que só pôde ser adquirida com o favor Juíz Roland Brack (Nicholas Pinnock), que cobra o pagamento da dívida de maneira diferente para cada um. Para George, dinheiro basta. Hedda, contudo, precisa pagar de outra forma.

Essa, porém, não é a principal tensão animando a noite de opulência, bebedeira e (alguns) tiros que se inicia. George está brigando por uma vaga de professor na universidade, e sua rival, Dra. Eileen Lovburg (Nina Hoss, preenchendo cada centímetro de uma caracterização ousada e gigante) é alguém com quem Hedda esteve, pode se dizer, intimamente familiar. Lovburg era uma bagunça, mas depois de conhecer Thea (Imogen Poots), ela largou os drinks e se dedicou à escrita de livros sobre mudanças no comportamento sexual das mulheres – com destaque para o interesse em outras mulheres – e Hedda se vê no meio de um perigoso jogo de atrações. Os membros da academia estão interessados em Lovburg. Hedda também. George está interessado no emprego. Hedda também. Thea está apaixonada por Lovburg. Hedda, talvez.

O que se segue é uma série de encontros inegavelmente divertidos, todos cooperando com a visão maior de DaCosta de renovar a obra de Ibsen enquanto aproveita os pilares essenciais do material original. Isso significa um texto ágil, entregue por atores que balanceiam a postura fechada da tal alta sociedade com reações viscerais de quem se vê possuído por lascívia ou inveja. Isso, infelizmente, também significa que Hedda passa a ser mais um exercício em linguagem e estilo do que algo emocionalmente cativante. 

Hedda
Amazon MGM Studios

Sim, os atores, em especial Thompson, sempre oferecem um condutor até os personagens, mas o roteiro de DaCosta não faz um trabalho bom o suficiente de estabelecer cada uma dessas figuras como pessoas para que nos envolvamos no vai-e-vem daquela noite em um nível mais íntimo do que, digamos, uma curiosidade mórbida. Assistir a Hedda gera o prazer natural de ver gente rica e bonita fazendo e falando besteira para ferir uma a outra, mas, devido a essa falta de interioridade, os momentos onde DaCosta busca partir nosso coração e molhar nossos olhos chegam sem impacto. 

Esse problema se agrava no quarto e quinto ato, quando os riscos da noite são elevados para além da reputação pessoal e acadêmica dos participantes, e as ações dos convidados tomam rumos mais violentos e ousados. Entre frases emblemáticas e entregas ágeis por parte do elenco, Hedda brilha, voa e empolga como um tipo de suspense social de classe privilegiada, mas na hora de fincar seus pés naquilo que é humano e tangível, o filme não tem a mesma habilidade.

O resultado não deixará de entreter e, curiosamente, pode ser que ajude o filme a sobreviver no mar confuso do algoritmo do streaming. Hedda talvez funcione melhor com um pouco menos de atenção, aproveitando mais suas imagens potentes e atores de talento. O tipo de coisa que acontece em casa, com a audiência dividida entre muitas telas. Numa única telona, porém, é impossível não se sentir perpetuamente à beira da grandeza.

Nota do Crítico

Hedda

Hedda

2025
107 min
País: EUA
Direção: Nia DaCosta
Roteiro: Nia DaCosta
Elenco: Nicholas Pinnock, Tom Bateman, Tessa Thompson, Imogen Poots, Nina Hoss
Onde assistir:
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