Green Room | Crítica
O lado punk do punk
A violência está na essência do punk. É o conceito que destrói guitarras e berra por subversão nos palcos. O grito extremo e pessimista contra as regras do mundo nascido do fracasso do “paz e amor”. No lugar de flores, cuspe na cara.
Agressividade que pode ser tanto teórica quanto prática, como mostra o diretor e roteirista Jeremy Saulnier em Green Room. Punk é uma banda de jovens bem-criados, buscando expressar suas frustrações em parcos acordes, e também um culto neonazista ultra violento comandado por um imponente Patrick Stewart.
O verde que decora as paredes da sala em que a banda se vê aprisionada depois de testemunhar um crime define o título e a paleta do longa, pontuando diversos momentos em um prenúncio da colisão entre os dois lados. O destino é a Cidade das Esmeraldas e eles verão a verdadeira face do Mágico de Oz.
Pat (Anton Yelchin) lidera o caminho. É ele quem começa a narrativa ao despertar na van da banda, atravessada em um milharal depois que o motorista/vocalista dormiu na direção. Também é ele o primeiro do grupo a experimentar o lado prático do punk. São os dois atos de Green Room: o road movie, com a jovem banda, seus ideais musicais, e a busca de um lugar para tocar; e o terror violento, com o grupo preso, cercado e sem saída.
O elenco acompanha bem essa transição. Os personagens têm personalidade e os atores respondem ao roteiro, mesmo que em papéis pequenos. Patrick Stewart é tratado com veneração. Saulnier demora a revelá-lo para depois usar a voz profunda do ator para friamente anunciar o caos.
A violência crua do filme serve como intimidação, o cuspe na cara em forma de sangue e membros (quase) decepados. Não basta falar sobre violência, é preciso encará-la, explica a relação entre conceito e realidade do filme. Para tanto, Green Room dispensa o suspense no seu jogo de gato e rato. Não há enrolação, apenas uma ordem de sobrevivência. Nem sempre é possível voltar para casa.
Leia mais sobre Festival de Sundance
*Green Room fez parte da seleção Spotlight do Festival de Sundance 2016. Paralelamente, o canal pago Sundance Channel terá na sua programação até 31 de janeiro o 10 Days of Sundance, com títulos que marcaram edições anteriores do festival, com exibições sempre às 23h. A grade conta ainda com The Strongest Man (dia 26), Cloro (dia 27),Gerry (dia 28), Bob and the Trees (dia 29), The Off Hours (dia 30) e Dreamcatcher (dia 31).
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