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Filmes como Gol! (Goal!, 2005) são uma espécie de loteria garantida. Na hora que a luz do cinema se apaga, já sabe-se o que esperar, de que jeito tudo vai acabar. Como? Gol! foi projetado em forma de uma trilogia que culmina com a Copa de 2006. Até junho de 2004 o bom cineasta Michael Winterbottom (A festa nunca termina, 9 canções) estava contratado para dirigi-lo, mas foi substituído pelo inexpressivo Danny Cannon (Judge Dredd) devido às famosas diferenças criativas. O filme é patrocinado pela FIFA, pela liga do futebol inglês, pela Adidas...
É evidente o que significa tudo somado: boa vontade chapa-branca demais e cinema de menos.
Isso pode ser muito bom para quem desembolsa caro o ingresso e quer ter certeza de que pagou pelo que queria assistir, sem surpresas. Não é muito gratificante, porém, para quem tem um mínimo de senso crítico, já não agüenta mais propaganda de material esportivo ou ver a cara maquiada de David Beckham como sinônimo de homem e de sucesso.
O rascunho de roteiro conta a vida do mexicano Santiago Muñez (Kuno Becker, de Aos olhos de uma mulher), que vive ilegalmente nos Estados Unidos e sonha em ser jogador de futebol profissional. Seu pai não quer saber dessa história de boleiro e força Santiago a trabalhar em bicos pela vizinhança de Los Angeles. O talento fala mais alto, claro, e o olheiro e ex-jogador inglês Glen Foy (Stephen Dillane, ator habitualmente mediano que aqui domina a cena) percebe, durante um jogo amador em LA, que o mexicano tem jeito para jogar no Newcastle United. O problema é que lá no meio dos profissionais há gente inescrupulosa, drogas, modelos, jogadores mimados, etc.
Temos, portanto, o tipo de premissa maniqueísta que vale tanto para fantasia de princesa da Disney quanto para comédias românticas glicosadas. A família versus o sucesso profissional, os certinhos versus os perdidos, o destino social que está escrito versus a vontade quase utópica de subir na vida... Santiago é puro. O pai é mau. A enfermeira do clube que se torna interesse romântico do protagonista também é pura, e bem bonita. Mas o beque carniceiro é mau, muito mau. O olheiro sensível é bom. O agente mercenário que negocia milhões, nem tanto.
Gol! pára em pé muito fragilmente nesse miolo de dramaturgia, como dá para perceber. É uma das regras fundamentais do cinema: tempos mortos ou fracos, que mostram a introspecção dos personagens e abrem lacunas para o espectador preencher, exigem um roteiro bom e um diretor melhor (isso Gol! não tem); mas quando o ritmo se acelera, a montagem fica mais ágil, a trilha sonora cresce forte, uma trama ruim pode ser mascarada pelo frenesi da imagem. É isso que o filme oferece, enfim, quando a bola começa a rolar de verdade para Santiago. E tome Oasis ao fundo pra levantar a torcida.
Não que as partidas sejam uma maravilha. Dá pra ver, pelo jeito que chuta, que Kuno Becker não é exatamente um Hugo Sánchez. Fica óbvio na hora que ele é substituído por um dublê craque: a câmera simplesmente corta da cintura pra baixo. Falando em câmera, é impressionante como os movimentos do diretor Cannon são previsíveis. Dá pra contar quantas vezes o mesmo plano do sobrevôo do estádio foi reutilizado.
De qualquer maneira, tem-se a galera na arquibancada, o corre-corre, o gol no último minuto... Se não rolasse um mínimo de catarse ali, daí sim seria um problema grave. Afinal, trata-se do maior esporte do planeta, não? Viva o mundo da bola!
Ano: 2005
País: EUA
Classificação: LIVRE
Duração: 118 min
Elenco: Kuno Becker