Five Nights 2 continua desperdiçando Emma Tammi em roteiro pavoroso
Como o original, sequência não consegue capitalizar na mitologia dos games
Créditos da imagem: Five Nights at Freddy's 2 (Reprodução)
Quando as rédeas de Five Nights at Freddy’s 2 estão nas mãos de Emma Tammi, o filme tem uma energia que simplesmente não existe quando o texto — assinado por Scott Cawthon, criador da franquia original de games — assume o protagonismo.
A diferença é óbvia. A cineasta está plenamente à altura do desafio de criar tensão, arquitetar sustos, usar reservas de medos culturais e geracionais para ditar as imagens e ritmos de cada cena – em outras palavras, ela entende a sua arte. Já Cawthon… se no primeiro filme ele dividia o crédito de roteiro com Tammi e com Seth Cuddebeck, aqui ele voa solo, e deixa entrever o motivo de não ter voado solo antes.
Não que o primeiro Five Night at Freddy’s, lançado em 2023, tivesse um grande texto. Mas havia ali um nível básico de competência, um entendimento da estrutura consagrada do roteiro (uma jornada do herói, a grosso modo), um apego à simplicidade que fazia sentido para a adaptação de um videogame que, apesar de sua mitologia expansiva, se concentra em poucos cenários e dinâmicas rígidas.
Com o sucesso de bilheteria do longa (quase US$ 300 milhões na bilheteria mundial, 10x mais do que o seu orçamento), Cawthon joga pela janela essa modéstia — e, junto com elas, qualquer semblante de estrutura. Primeiro, para justificar a própria existência da continuação, ele arquiteta muito mal a revelação de uma série de segredos guardados por Vanessa (Elizabeth Lail), que descobrimos no filme anterior ser a filha de William Afton (Matthew Lillard), grande vilão da franquia.
Entra nessa história uma segunda localização da Freddy Fazbear's Pizza, que conta não só com novos animatrônicos para atormentar a vida de Mike (Josh Hutcherson) e Abby (Piper Rubio), mas também com o fantasma de uma menina assassinada por lá nos anos 1980, determinada a se vingar contra todos os adultos que ignoraram sua dor na época. Não para por aí, na verdade, mas entregar mais das reviravoltas e revelações que se sucedem até os últimos minutos do filme pode convidar a fúria dos fãs.
Para piorar, Cawthon claramente não sabe escrever diálogos. Empoleiradas entre a exposição exaustiva e a oscilação de tom inesperada (a relação de Mike e Vanessa é a mais prejudicada nesse sentido), as interações entre os personagens não ajudam o espectador a se envolver nesse universo, que é claramente ambicioso. Talvez sejam ossos do ofício: como criador de tudo isso, o olho de Cawthon está sempre no quadro maior.
O problema óbvio é que Five Nights at Freddy’s 2 ainda é um filme, e ainda precisa que o espectador se importe com ele (ou pelo menos se divirta com ele), e não com o que ele está construindo e sugerindo para o futuro. Por trás das câmeras, Emma Tammi está plenamente aplicada à tarefa à mão — mas, com o material que tem, ela não pode fazer muita coisa além de nos distrair das falhas ao seu redor.
Five Nights at Freddy's 2
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