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Uma das primeiras conclusões diante de Exorcistas do Vaticano (The Vatican Tapes, 2015), o primeiro filme solo de um dos diretores que se popularizaram assinando como Neveldine/Taylor os dois AdrenalinaGamerMotoqueiro Fantasma 2, é que dentro da (ex?) dupla Mark Neveldine é o cara que tem problema com hospitais.

Porque Exorcistas do Vaticano tem o mesmo espírito anárquico de Adrenalina, embora substitua Jason Statham correndo de um lado para outro de camisola hospitalar por uma loira angelical, apropriadamente chamada Angela (Olivia Dudley), que toca o terror num asilo psiquiátrico enquanto possuída pelo diabo. Na trama, esse evento paranormal desperta a atenção do Vaticano - e então o filme se desenrola como uma versão anabolizada de O Exorcista.

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A estrutura é tão similar à do clássico de William Friedkin (primeiro horror médico, depois filme de exorcismo, com padre novato com dúvidas e um exorcista veterano que já encontrou o diabo na juventude) que, quando o cardeal Bruun (Peter Andersson) chega de carro à porta de Angela, a luz que incide sobre ele é a mesma de O Exorcista. Até seu chapéu é igual ao de Padre Merrin. Em defesa de Neveldine, essas "coincidências" parecem existir aqui apenas para tipificar Exorcistas do Vaticano como um filme de possessão cujas regras o espectador possa identificar logo de cara. Porque, em espírito, esse seu longa solo não tem nada de óbvio.

Voltemos às cenas no hospital. O gosto de Neveldine para ver o circo pegar fogo fica mais do que evidente nas cenas de caos, ação que ele tradicionalmente filma com câmera na mão, sobre patins, com zooms e close-up rápidos e sempre em movimento. Não é só um tique de estilo; nos filmes de Neveldine a obrigação do movimento é quase uma questão de identidade ou um princípio político. Como em Adrenalina, mesmo corpos mortos estão fadados a se reanimar, porque o movimento nunca cessa. A diferença entre Angela e Jason Statham é que ela não precisa de drogas ou choques para voltar de comas ou sonos profundos - o que a move é a possessão.

Na tela, essa questão do movimento tem um primeiro efeito dramático: Exorcistas do Vaticano é um filme muito melhor de suspense do que de susto, porque uma vez que tudo tem um potencial de explosão, mesmo que seja só o jantar preparado pelo namorado de Angela, nós já nos condicionamos a não ter descanso. Ao longo do filme, Neveldine nos habitua a essa ideia da desordem como regra, do caos como instrumento de disrupção. Não dá pra ser muito mais anarquista que isso.

É por isso que hospitais, nesses filmes todos, e o Vaticano, particularmente neste longa, em algum momento serão vistos como o "inimigo": eles representam uma velha ordem que não tem mais vez na anarquia, organizações cuja vocação primeira é anular o indivíduo em nome de uma suposta harmonia institucional. Se Exorcistas do Vaticano é um filme bastante empolgante no seu clímax, quando todas as peças já foram dispostas em cena, é porque nunca sabemos ao certo se as intenções do exorcista - o representante da Igreja - vão beneficiar Angela enquanto indivíduo.

E então vem o final com sua reviravolta, que pode ser surpreendente em comparação com outras histórias de possessão mas faz muito sentido dentro do que Neveldine se propôs realizar. Porque filmes de exorcismo, ao expulsar o estranho do corpo, sempre têm como objetivo restabelecer uma ordem anterior. Este não. Exorcistas do Vaticano enxerga a expurgação como um atentado contra o indivíduo - e embora nem sempre seja senhor dos seus movimentos, o indivíduo só tem esses movimentos, seu corpo enfim, em quem confiar.

Nota do Crítico

Ótimo
Marcelo Hessel

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