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Crítica

Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer | Crítica

Adaptação ao cinema do livro de Jesse Andrews faz um sub-Wes Anderson com drama de afirmação juvenil

03.10.2015, às 13H13.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Embora a sinopse de Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer (Me and Earl and the Dying Girl, 2015) lembre o Rebobine, Por Favor de Michel Gondry - na história de dois adolescentes que transformam cinefilia em produção caseira de cinema e agora precisam fazer um filme para uma amiga em câncer terminal - a matriz de referências do longa de Alfonso Gomez-Rejon é Wes Anderson. Particularmente, a imitação de vida nos trabalhos de Anderson.

A criação de um fac-símile da nossa realidade que permita jogar com estereótipos e situações melodramáticas de forma lúdica, operação que dita alguns dos principais filmes de Anderson, como Os Excêntricos Tenenbaums, é usada por Gomez-Rejon nesta adaptação ao cinema do romance de Jesse Andrews para gerar empatia com nosso miserável protagonista, Greg (Thomas Mann, ótimo no papel), a personificação do Privilégio Branco.

Se aceitamos a premissa - e talvez até nos identifiquemos com ela - de que Greg expiará sua culpa burguesa e aprenderá a ser gente depois de apanhar na cara com a doença de Rachel (Olivia Cooke) e com a pobreza do negro Earl (RJ Cyler), é porque o filme se reveste de imitações de vida para se proteger do julgamento moral. O que Greg fez para merecer ser o protagonista desta história, e não Earl ou Rachel? Perguntas assim tendem a se perder no ar, porque é a partir do uso irônico de estereótipos, e não de seu endosso (pelo menos em tese), que o filme se organiza.

É como se Greg fosse uma caricatura, e não um hétero caucasiano de classe média-alta de fato, alheio às dificuldades que o resto da população (mulheres, negros) passa ao seu redor. Para consolidar essa imagem, o filme cerca o protagonista de outros tipos excêntricos (o pai e suas comidas, o professor tatuado), e só faltava mesmo uma meia-dúzia de gravatas borboletas para que Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer fosse confundido com um filme de Wes Anderson. Porque os enquadramentos geométricos e as cartelas espirituosas na tela, dividindo o filme em capítulos, já estão lá.

Acontece que existe uma diferença fundamental: Anderson acredita de verdade na sua imitação de vida, e não há traço de ironia na forma como ele o faz. Já o fac-símile de Gomez-Rejon, à falta de uma sinceridade que se compare à de Anderson, tem mais efeito como comédia - e não deixam de ser bem engraçados os momentos de Greg contra os freaks do colégio, como os góticos e o rapper gangsta. No fim, Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer acaba encontrando um propósito nessas cenas, porque a forma cética como os jovens encaram a "imitação de vida" do colegial - ceticismo presente em diversos outros filmes americanos de high school - é bem representada aqui.

Nota do Crítico
Bom

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