Eu me Lembro | Crítica
O primeiro longa-metragem de Edgard Navarro
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Eu me lembro (2006), primeiro longa-metragem do veterano em curtas Edgard Navarro, propõe uma visita aos grandes momentos/movimentos que mudaram a face do país. De meados da década de 1950 até os anos 1970 acompanhamos tais passagens históricas através dos olhos de uma criança, que se torna homem nesse período.
Guiga, o protagonista, começa pequeno numa provinciana Salvador e, conforme cresce, nutre interesse pela literatura e o cinema. As artes o colocam em contato com o mundo dos pensadores numa época em que pensar causa problemas, em plena Ditadura Militar. Mais tarde, com os amigos, chegam as experiências lisérgicas.
O tema é dos mais seguros - já foi testado e retestado no cinema nacional (e mundial) -, a tal costura de lembranças juvenis com fatos históricos. E Eu me lembro até reúne um ou outro momento interessante, como quando usa o humor para reforçar uma idéia.
Mas toda a credibilidade que o filme poderia ter alcançado desmorona quando o longa destaca as descobertas sexuais de seus personagens. Logo nas primeiras cenas, Navarro percorre com sua câmera o corpo de meninos nus, não poupando a audiência da visão dos pênis das crianças em plena atividade masturbatória. Seguem ainda cenas (um pouco mais discretas) de sexo entre um dos menores e sua empregada. Fica a certeza de que tais seqüências estão ali com o único propósito de chocar. Afinal, existem dezenas de outras soluções possíveis para sugerir o que Navarro escancara. Talento para realizá-las ele tem, como mostra em diversas outras partes do filme - que em termos de direção de arte e fotografia é até bastante íntegro -, mas ao deleitar-se com o recurso da "polêmica pela polêmica", a credibilidade do cineasta escorre para o esgoto, tornando impossível o apreço pelo restante da película. Ao tentar fazer barulho, Navarro nivela-se por baixo, virando até piada pronta.
"Eu me lembro, mas quero esquecer", já se comenta por aí.


