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Esses Amores | Crítica

Claude Lelouch se entrega à nostalgia em um filme que sabe, também, enxergar a sedução do espetáculo

25.08.2011, às 17H16.
Atualizada em 07.11.2016, ÀS 23H05

Godard já culpou Spielberg por transformar a Segunda Guerra em espetáculo, mas o cinema francês não está imune aos encantos do imaginário do conflito. Reverência à imagem americanizada é um dos princípios do filme mais recente do diretor Claude Lelouch (Crimes de Autor, A Coragem de Amar), que em português ganhou uma tradução literal do nome em francês, Esses Amores (Ces Amours-là).

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O título em inglês, What War May Bring, é mais sugestivo. O que a guerra pode trazer? Para Ilva (Audrey Dana), lanterninha do cinema do tio em Paris, depois de alegrias e sofrimento em equilibrada medida, a guerra trouxe uma acusação de assassinato. No imediato pós-guerra, a francesa teria matado o seu marido, um soldado dos EUA, herdeiro de uma milionária empresa de máquinas de costura, que conheceu Ilva durante a libertação da capital.

Qual o motivo do crime? Até chegar nesse momento da revelação, Esses Amores faz uma longa digressão desde a criação do cinema, passando pelo primeiros filmes da propaganda nazista, até o balé dos para-quedistas do Dia D na Normandia. Há momentos de homenagem didática (o instante de um crime vem acompanhado de um pôster gigante de Hitchcock), de resgate visual (o campo de concentração de Technicolor) e de metalinguagem declarada (o soldado protagonista é o fotógrafo do pelotão).

O relato histórico coincide com a homenagem ao cinema, em geral, e ao cinema hollywoodiano, em particular - parte da memória afetiva dos cinéfilos da geração de Lelouch, que passaram a ter acesso aos filmes dos EUA na França justamente por conta da abertura do pós-guerra. Esses Amores começa e termina em nota autobiográfica, com o diretor falando de sua própria produção, mas o saldo não é só autoreferente nem só nostálgico; Lelouch vai além do saudosismo e faz um filme interessante sobre a sedução do espetáculo.

Isso fica mais agudo nas cenas que lidam diretamente com a dura memória do Holocausto - como a senhora judia que faz um monólogo desvairado no vagão do trem e é aplaudida pelas demais, ou o oficial nazista que conquista Ilva ao tocar a "Marselhesa" em uma escaleta - mas está presente também nos flashbacks, como o do índio que, espetacularmente, vence a corrida no Velho Oeste. São personagens entregues não apenas à paixão, os de Esses Amores, mas ao fascínio da performance.

É como se a ocupação nazista - que se apropria do cinema desde o advento do sonoro, como Lelouch sugere em um salto temporal - tivesse criado uma oferta de pessoas "doentes por arte", dispostas a abraçar a ilusão não como escapismo, mas como um refúgio de fato. Uma geração patologicamente cinéfila.

Esses Amores | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Bom
Esses Amores
Ces Amours-là
Esses Amores
Ces Amours-là

Ano: 2010

País: França

Classificação: 12 anos

Duração: 120 min

Direção: Claude Lelouch

Elenco: Audrey Dana, Samuel Labarthe, Dominique Pinon, Anouk Aimée

Onde assistir:
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