Entre Montanhas

Créditos da imagem: Apple TV+

Filmes

Crítica

Entre Montanhas enterra Anya Taylor-Joy e Miles Teller num desfiladeiro de tons

Suspense, comédia romântica, terror e ação. Filme de Scott Derrickson tenta um pouco de tudo.

Omelete
3 min de leitura
13.02.2025, às 14H00.

Se você pretende passear por diferentes gêneros em seu filme, então é bom ser capaz de controlar bem o tom dele. Para cada ótima caixinha de surpresas, como Parasita – onde a comédia parece estar escondida no suspense, que está escondido no drama –, há coisas que saem totalmente do trilho. Basta olhar Emilia Pérez. Entre Montanhas não é um desastre trágico como o vilão da temporada do Oscar. O longa de Scott Derrickson, porém, se mostra constantemente aquém das capacidades do realizador.

Melhor conhecido por sua marca de terror sentimental e honesto, Derrickson decide filmar o roteiro de Zach Dean quase como se não soubesse o que viria na próxima página, e como consequência parece estar sempre correndo atrás do prejuízo. Quando o filme troca de marcha do thriller de operações secretas para a comédia romântica, é difícil entender quem mais se surpreende: diretor ou público. No meio desse vai-e-vem estão Miles Teller e Anya Taylor-Joy, atores competentes em criar uma espécie de âncora nisso tudo – um gancho emocional para o qual sempre podemos voltar – mas cujos melhores dotes são anulados pelo texto expositivo e pela fotografia pouco inspirada.

Teller e Taylor-Joy vivem dois atiradores de elite. Ele, americano, não consegue se encaixar na sociedade. Ela, bielorrussa, aceita uma distração para não pensar no pai prestes a morrer. De certa forma, então, a missão de passar um ano isolados, sem comunicação e servindo de guardas em torres brutalistas de lados opostos de um desfiladeiro envolto em névoa, é muito bem-vinda. Ordenados a ignorar a presença um do outro - a distância entre as margens do desfiladeiro evoca uma dinâmica de antagonismo tipo Círculo de Fogo (2001) -, eles começam a patrulha seguindo as regras direitinho. Depois de um primeiro embate com coisas vindas lá de baixo, contudo, eles decidem conversar.

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A reviravolta narrativa é acompanhada pela reviravolta tonal, e Entre Montanhas então aponta para um romance levemente cômico conforme os dois encenam um clipe de Taylor Swift trocando mensagens escritas em cartazes. Isso os leva a buscar um jeito de estarem fisicamente juntos, decisão que, claro, dá errado e engatilha a próxima virada, em direção ao survival horror. Elementos de terror e, enfim, ação começam a povoar a tela até o desfecho.

Entre os cenários artificiais e a falta de imaginação para as cenas no desfiladeiro, Derrickson termina fazendo um filme à mercê dos caprichos mais bizarros de seu roteiro. Seria uma coisa se Entre Montanhas soubesse trabalhar bem suas muitas faces, seja criando uma coerência cinematográfica entre todos eles ou mesmo tornando a pluralidade de linguagem seu principal elemento. Repleto de imagens estéreis demais para aproveitar o que poderia ser uma montanha russa, Entre Montanhas termina parecendo uma bagunça com alguns altos e muitos baixos.

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Estes altos vêm quando Derrickson usa seu conhecimento de terror em sequências específicas do terceiro ato, ou quando cede espaço para Taylor-Joy e Teller atuarem. Os dois não têm grande química, e ela se mostra significativamente mais confortável e cativante que ele, mas quando Derrickson consegue uma boa composição e deixa o elenco brilhar, Entre Montanhas solta faíscas. A primeira luta dos dois contra o que sai das profundezas empolga, e há boas surpresas quando o cenário como um todo se expande em direção a elas.

Nenhuma delas, porém, é muito chocante. Entre Montanhas tem uma boa premissa, uma que abre margem para a ficção científica, fantasia e para o suspense, e apesar dessa variedade de gêneros até surgir no filme, Derrickson e Dean encerram esse surto caminhando nas direções mais óbvias e menos interessantes. É até curioso: os plot twists finais não são nada comparados às viradas tonais.

Nota do Crítico
Regular

Entre Montanhas

The Gorge

Ano: 2025

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 2h7 min

Elenco: Anya Taylor-Joy , Sope Dirisu , Sigourney Weaver , Miles Teller

Onde assistir:
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