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Crítica

Entre irmãs - Crítica

Breno Silveira entregaria um ótimo longa se soubesse escolher melhor a hora de colocar pontos finais

RG
09.10.2017, às 20H23.
Atualizada em 10.10.2017, ÀS 14H19

Depois de uma incursão positiva ao sertão pernambucano em Gonzaga: De Pai Para Filho, o diretor Breno Silveira retornou ao cenário para contar a história de Lindalva e Emília no seu novo filme, Entre Irmãs. O longa se passa na década de 1930 e é uma adaptação do livro A Costureira e o Cangaceiro, de Frances de Pontes Peebles. A trama acompanha as jornadas distintas de duas jovens irmãs que, após serem separadas pelo destino, precisam encarar sozinhas adversidades de realidades completamente diferentes. Ainda que o filme entregue duas histórias emocionantes ao longo de quase três horas, decepciona ao apostar em conclusões desnecessárias.

Luzia e Emília são vividas, respectivamente, por Nanda Costa e Marjorie Estiano e as duas atrizes - como habitual - fazem um ótimo trabalho. Ambas personagens são detentoras de espíritos livres, ainda que cada uma busque isso de forma diferente: Luzia tem uma natureza mais selvagem e justiceira, enquanto Emília é romântica e sonhadora. O filme mostra um pouco da infância das duas e da ingenuidade dos primeiros anos da vida adulta, mas a história começa de fato quando elas são separadas. Luzia é inserida na clandestinidade do cangaço ao ser raptada por Carcará (Julio Machado) e Emília sai da seca do sertão para se tornar uma dama da alta sociedade recifense quando casa com Degas (Rômulo Estrela).

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O filme é ancorado na lógica do destino, de que há um conjunto de eventos inevitáveis pelo qual cada um deverá passar em sua jornada individual. Luzia é apresentada a conceitos diferentes de justiça e de liberdade, aprendendo o peso do dever, enquanto Emília vê seus sonhos desmoronarem perante a realidade e aprende que o amor é algo complexo e aberto a infinitas possibilidades. Aliás, falando em amor: em tempos de discussão sobre a absurda patologização da comunidade LGBT, a relação secreta de Degas com Felipe (Gabriel Stauffer) mostra como reações coercivas e intolerantes a casais não heteronormativos deveriam ser algo comum somente em narrativas ambientadas há quase um século, não nos dias de hoje.

Há vários momentos que se prolongam além do necessário. O didatismo do encerramento do affair entre Emília e Lindalva (Letícia Colin), por exemplo, é decepcionante e, mais que isso, é desnecessária. O arco não precisava ir além da cena que representa o clímax entre as duas: a experiência vivida por elas poderia ser encarada como conclusiva na vida de Emilia. Contudo, o filme opta por uma narrativa mais tradicional, com um final completamente fechado. Não é nem de longe a decisão mais acertada - o último diálogo que marca a história delas é ruim e fica a impressão que o longa desperdiçou a oportunidade de fechar bem um arco simplesmente por não saber a hora de parar.

Isso não acontece só nesse exemplo - é algo recorrente e que acaba contaminando o grande final do filme. O longa alimenta durante suas longas três horas a expectativa pelo que acontecerá quando as trajetórias paralelas de Emilia e Luzia voltarem a se cruzar, mas acaba se perdendo ao optar por continuar contando a história além disso. O filme deixa escapar um ótimo encerramento para a trama ao sentir a necessidade de dar conclusões clássicas para as duas personagens, transformando uma história emocionante em uma narrativa coroada por clichês.

A impressão final é a de que o filme funcionaria muito melhor como uma minissérie da Globo (o que provavelmente acontecerá, levando em conta o histórico do diretor). Há claramente um esforço para tornar mais sólidas as conclusões de todos os arcos, algo comum em novelas - é preciso de um nascimento, uma morte, um casamento, uma viagem ou algum evento grandioso do tipo para dar legitimidade aos pontos finais. Entre Irmãs não é ruim, a história é interessante e tanto Marjorie Estiano quanto Nanda Costa se reafirmam como ótimas atrizes. O problema é que ele não soa como um filme: para isso, Breno Silveira precisava ter ousado um pouquinho mais ao invés de se submeter a um modelo narrativo mais engessado para fazer do seu projeto algo mais palatável para certa parcela do público.

Nota do Crítico

Regular
Rafael Gonzaga

Entre Irmãs

Entre Irmãs

2017
12.10.2017
160 min
Drama
País: Brasil
Classificação: 14 anos
Direção: Breno Silveira
Roteiro: Patrícia Andrade
Elenco: Nanda Costa, Marjorie Estiano, Júlio Machado, Rômulo Estrela, Letícia Colin, Cyria Coentro, Claudio Jaborandy, Rita Assemany, Ângelo Antônio, Fabio Lago
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