Usando imagens reais dos protestos do movimento de coletes amarelos da França, grupo que entrou em ação depois que impostos sobre combustíveis dificultaram ainda mais as coisas para a classe média e trabalhadora do país, Dossier 137 tem tudo para ser um suspense policial e político de qualidade. Seus primeiros minutos são, de muitas maneiras, explosivos. Ao fim do filme de Dominik Moll, porém, é difícil evitar a sensação de que tudo aquilo não passou de uma breve, ainda que competente, investigação de como policiais mal treinados reagem a situações intensas.
Investigar isso, aliás, é o trabalho de Stéphanie (Léa Drucker). Parte do departamento responsável por, como ela diz, policiar os policiais, a investigadora – diferente de outros em sua unidade – não entrou nessa empreitada para, digamos, prender agentes de corrupção, mas por necessidade. Seu marido, também policial, era seu parceiro na luta contra narcóticos. Numa tentativa de salvar seu casamento, porém, eles decidiram que um dos dois precisava mudar de carreira, e ela assumiu a bronca. Não foi o suficiente para evitar o divórcio, e agora o ex-cônjuge (e sua nova namorada, também na força) a enxergam como uma traidora.
Essa é uma opinião compartilhada por muitos na polícia francesa, e algo que ela ouvirá muito enquanto investiga um ato de violência grave executado por um membro da BRI, divisão de combate ao terrorismo que ganhou uma fama heróica depois dos atendados de Paris em 2016. Apenas dois anos depois daquilo, Stéphanie se depara com o que os suspeitos garantem ter sido um ato de legítima defesa, mas que deixou o filho mais novo de uma família da mesma cidade onde ela nasceu, um local do interior pequeno o suficiente para ser confundido com uma vila, marcado para sempre.
Mas, para além de encontrar um ou outro momento de descoberta cativante aqui e ali, ou contar com um trabalho surpreendentemente contido e eficaz de Drucker, Moll pouco faz com a pólvora em suas mãos. A perspectiva de Stéphanie é única dentro disso tudo. Como ela mesma diz num discurso final que rapidamente assume posto de melhor cena de Dossier 137, é fácil enxergar como ela pode ser influenciada para qualquer lado nessa investigação. Partindo para fora do pessoal, há também uma carga política e social pesada no filme, que não foge de mostrar a perspectiva dos policiais sem tentar justificá-la.
O resultado final, contudo, é um filme que mantém seus pés firmes no raso. Seja nos dilemas pessoais da protagonista ou como retrato de um país em caos, Dossier 137 sofre pela incapacidade de seu diretor de engajar através do gênero escolhido. Este é, essencialmente, um filme de detetive. O progresso no caso, porém, nunca ganha um senso de movimento ou propulsão, apenas vamos de prova em prova na expectativa de que Dossier 137 trocará a marcha. O pavio segue queimando, mas a bomba nunca explode e as faíscas, enfim, se apagam.
Dossier 137
Dossier 137
Ano: 2025
País: França
Duração: 115 min
Direção: Dominik Moll
Elenco: Léa Drucker
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