Doce Trapaça | Crítica
Doce trapaça
Particularmente no gênero desgastado das comédias hollywoodianas, criatividade e inovações costumam ser muito bem-vindas. Quando possuem estas características, resultam em sucesso. Até que se tornam outro aspecto absorvido pela fórmula básica do humor e voltamos à mesmice. Já houve o tempo do besteirol non-sense e dos brutamontes metidos a engraçados, à maneira de Schwarzenegger e de Stallone. Há alguns anos, uma nova modalidade foi criada: a comédia protagonizada por elencos de responsabilidade, gente séria, estranhos no habitat do riso. De Mel Gibson a Michael Douglas, de Bruce Willis a Robert De Niro, muitos já recorreram à prática. E exatamente esse aspecto tira a comédia romântica Doce Trapaça (Heartbreakers, 2001) da trivialidade.
Depois de estrelar Heróis Fora de Órbita (Galaxy Quest, de Dean Parisot, 1999), Sigourney Weaver decide revisitar o seu lado pastelão. Ray Liotta volta às comédias depois da leve Corina, Uma Babá Perfeita (Corrina, Corrina, de Jessie Nelson, 1994). Gene Hackman, por sua vez, assume a veia cômica, depois do sucesso de A Gaiola das Loucas (The Birdcage, de Mike Nichols, 1996). Em Doce Trapaça, Maxine Conners (Weaver) e sua filha Page (a musa teen Jennifer Love Hewitt, da série Party of Five) sobrevivem à base de golpes-do-baú. Enquanto uma consegue armar o matrimônio com a vítima da vez, a outra seduz o recém-casado. Fica consumado o adultério. Invariavelmente, o pedido de divórcio garante às duas mulheres alguns milhões de dólares.
Depois de arrasar a vida do vigarista Dean Cumanno (Liotta), Maxine e Page seguem viagem até a Califórnia. Lá, armam uma arapuca ainda maior. Enquanto a filha se empenha na conquista do jovem Jack Withrowe (Jason Lee), administrador de um bar, a mãe persegue o milionário William Tensy (Hackman), um magnata da indústria do tabaco. Aqui entra o talento genuíno de Hackman. De baixo de uma forte maquiagem, faz o papel hilariante de um sedentário viciado no fumo e se encarrega de dar graça ao filme. Aventuras antigas retornam, amores verdadeiros afloram e outras trapaças ainda se apresentam. No fim, o que seria apenas uma comédia romântica bem arrumada, com as suas piadas estudadas e planejadas, ganha um alento com o desempenho de Weaver, Liotta e Hackman.
Doce Trapaça
Heartbreakers