Cena de Desconhecidos (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Desconhecidos (Reprodução)

Filmes

Crítica

Desconhecidos embaralha narrativa estúpida para nos convencer de que é esperto

Diretor JT Mollner faz pose cansada de artista “experimental”, mas tem a cabeça vazia

Omelete
4 min de leitura
03.04.2025, às 09H21.

A primeiríssima informação que Desconhecidos apresenta ao público é que ele foi “inteiramente filmado em 35mm”. O anúncio aparece na tela, em letras garrafais, antes do letreiro à la O Massacre da Serra Elétrica que posiciona a história inteiramente ficcional do filme como “inspirada em fatos”; e antes também da já relativamente célebre tomada inicial, com Willa Fitzgerald em um traje vermelho, correndo por um gramado esparso na direção da câmera. É uma escolha que apresenta, logo de cara, as prioridades do diretor/roteirista JT Mollner e seus parceiros criativos – Desconhecidos quer que você o encare primeiro como um experimento cinematográfico, um exercício estético de sofisticação cinéfila, uma brincadeira com expectativas de gênero. E,só depois disso tudo, como uma história.

Há quem vá defender essa ordenação como perfeitamente válida. Este crítico que vos fala, inclusive, frequentemente é culpado desse tipo de retórica. Mas há de se entender o que é de fato uma subversão de regras dentro da indústria cinematográfica, e o que é pose vazia para conquistar um secto do público alternativo – na Hollywood que deu uma braçada de estatuetas do Oscar e US$ 1 bilhão de bilheteria para Oppenheimer, e num espaço de suspense/terror que ainda opera na presunção do “horror elevado”, filmar em 35mm é mesmo se rebelar contra o sistema, ou apenas uma excelente ferramenta de marketing? Adicione aí o fato de que a fotografia em questão é assinada por Giovanni Ribisi (ele mesmo, o ator de Avatar e Friends), e você tem uma plataforma perfeita para fazer o seu filme alugar um triplex na cabeça da galerinha Letterboxd.

Se essa vontade absurda de alardear o “filmado em 35mm” gera um pezinho atrás, a realidade de Desconhecidos como produto estético deveria ser o bastante para correr uma maratona de trás para frente. Ribisi faz aqui a sua estreia como diretor de fotografia de longas-metragens (seus únicos créditos anteriores na função haviam sido videoclipes para artistas queridinhos do público alternativo, como Beck e Jónsi), e não é nem um pouco difícil de perceber essa inexperiência: Desconhecidos é impressionante por cinco minutos com suas cores estouradas, suas tomadas relativamente longas, sua iluminação que oscila entre noites encharcadas de neon e dias cruelmente ensolarados. Passados esses preciosos segundos, conforme fica claro que o filme não vai flexibilizar sua proposta visual, se torna evidente também que Ribisi não sabe procurar e adicionar significados com a sua câmera.

Não é que as tomadas de Desconhecidos sejam incompetentes ou feias – se o 35mm serve de fato para alguma coisa, é para garantir que o filme não se junte à massa de visuais digitais acinzentados que tem saído dos grandes estúdios de Hollywood –, mas mesmo assim ele não foge de certa monotonia visual. Vermelhos cintilantes e verdes fluorescentes, por mais que sejam um prazer de se ver nesta era do cinema comercial estadunidense, não fazem um bom filme sozinhos. O que faz um bom filme é uma visão artística firme, unificando uma série de trabalhos técnicos na direção de uma ideia (não necessariamente uma mensagem, veja bem, mas uma ideia). Nesse sentido, Desconhecidos está obviamente nas mãos de Mollner, e é ele quem o deixa escorrer pelos seus dedos.

É ele, afinal, quem escolhe dividir essa trama simples de gato-e-rato entre um serial killer e sua vítima em capítulos que se apresentam embaralhados para o espectador. É a prerrogativa de um contador de histórias decidir quantos passos à frente estará do seu público, claro, mas Desconhecidos escolhe começar a nos contar a sua olhando de cima para baixo, como se dissesse “eu sei de uma coisa que você não sabe, e você vai se sentir muito burro quando descobrir”. E a estrutura fora de ordem até funcionaria, de novo, se a grande revelação do filme não fosse fundada em um entendimento profundamente equivocado das relações de poder e comportamentos humanos que ele retrata. Na vontade de subverter presunções, o filme - que discute relações sexuais entre, bom, desconhecidos - precisa esticar os limites do razoável e do crível para cutucar um status quo inteiramente imaginado, e por isso tropeça em si mesmo.

Seja só pela ânsia de surpreender, ou por qualquer rancor de gênero mal-resolvido, Mollner cria aqui um filme de discurso estúpido, que não cansa de dobrar a aposta nesta estupidez. Pior ainda, ele e seus colaboradores fazem isso com a convicção de estar criando uma peça de cinema tremendamente inovadora, eminentemente provocadora. “Filmado inteiramente em 35mm, “não vai ser fácil de engolir para todo mundo, e por aí vai. Palavras que parecem ter convencido muitos a glorificar um filme na melhor das hipóteses vazio, e na pior bastante reacionário. Compreensível, talvez: numa era tão carente de inovação, fazer pose de inovador é mais do que o bastante para muita gente.

Nota do Crítico
Ruim

Desconhecidos

Strange Darling

Ano: 2024

País: EUA

Duração: 97 min

Direção: JT Mollner

Roteiro: JT Mollner

Elenco: Willa Fitzgerald , Barbara Hershey , Ed Begley Jr. , Kyle Gallner

Onde assistir:
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