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Crítica

De Menor | Crítica

Caru Alves de Souza estreia como diretora em premiado longa de caráter pedagógico

03.09.2014, às 19H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 15H24

Em época de superpopulação carcerária e candidato a governo que prega redução de maioridade penal, um filme como De Menor tem, acima de tudo, caráter pedagógico: ensinar a ver em nós os problemas que, por conveniência social, nos habituamos a enxergar somente nos outros.

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A trama começa similar a outras crônicas latinas de orfandade na adolescência, como o argentino Abrir Portas e Janelas ou o mexicano Lake Tahoe. A câmera acompanha, pelas costas, a jovem advogada Helena (Rita Batata) chegando em casa; a enorme faixa de "vende-se" esticada na janela indica que há um vazio a preencher. O plano-sequência atravessa os cômodos como que convidando, nessa primeira inspeção sem cortes, o espectador a formar uma ideia de quem vive ali, como vive.

E a ideia que se forma, inicialmente, soa familiar, reconfortante. Helena e seu irmão adolescente Caio (Giovanni Gallo) brincam, comem juntos, convivem sem pudor. Faz calor, parece verão na cidade de Santos. Como nas outras crônicas latinas citadas, o verão é a estação que tem a marca do despudor. São dois personagens, portanto, como todo adolescente deveria ser: sem carga alguma de culpa.

De Menor começa a se diferenciar porque é justamente essa questão da culpabilidade que a diretora estreante Caru Alves de Souza aborda em seguida. Helena trabalha na defensoria no Juizado de Menores; seu trabalho é mais próximo ao de uma assistente social (como a certa altura pergunta uma personagem) do que ela parece crer. Quando Caio demonstra lidar mal com o luto, Helena vê sua vida pessoal cruzar com a profissional.

Vencedor do prêmio de melhor filme de ficção no Festival do Rio 2013, em decisão dividida com O Lobo Atrás da Porta, De Menor esboça em alguns momentos, como na cena em que Helena atravessa um cortiço e a câmera faz o mesmo caminho em plano-sequência do início do filme, que está interessado em investigar espaços sociais e, mais importante, entender como a ocupação que fazemos desses espaços reflete nossa conduta social. Nesse sentido, é um longa que almeja um lugar no melhor cinema latino-americano feito hoje, aquele que entende os espaços - e a forma como a mise-en-scène ocupa esses espaços - como um cenário de transformação.

Se De Menor parece se resolver de forma um tanto didática, em sintonia com esse caráter pedagógico que o filme adquire, talvez seja porque a trama de Helena e Caio se desenrola como um melodrama de tipos e situações estanques (como a subtrama da busca pela mãe do menino réu, obviamente pensada como contraponto à orfandade de Caio). Caru de Souza não perde de vista, porém, a importância dos espaços; a cena em que Helena vasculha o quarto de Caio e "desconta" ali todo o seu sentimento de invalidez parece manjada, como se fosse coisa de novela, mas tem seu peso: mesmo o lar mais acolhedor não está a salvo do mal da incompletude.

De Menor | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Bom
De Menor
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De Menor

Ano: 2013

País: Brasil

Classificação: 14 anos

Duração: 77 min

Direção: Caru Alves de Souza

Elenco: Rita Batata, Caco Ciocler

Onde assistir:
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