Às vezes, parece impossível fugir da onda nostálgica criada pelo sucesso trazido por Stranger Things ainda na sua primeira temporada, em 2015. De lá para cá, séries e filmes como Everything Sucks e Capitã Marvel tentaram recriar o ambiente vivido entre as décadas de 1980 e 1990, com resultados variados. À primeira vista, Verão de 84 parece apenas mais uma produção que procurava se aproveitar do interesse do público por tempos passados, mas a mistura de gêneros e o carisma do elenco dão algo a mais ao longa.
Na trama, quatro adolescentes do subúrbio de Oregon, estado dos EUA, decidem investigar um de seus vizinhos, o policial Wayne Mackey (Rich Sommer), depois que Davey (Graham Verchere) convence o grupo de ele poderia ser “o assassino de Cape May”, serial killer que vinha sequestrando e matando jovens garotos na região.
O tom divertido do começo do filme, mesmo com a atmosfera ameaçadora do criminoso à solta, estabelece Verão de 84 como uma produção coming of age (que foca no crescimento e amadurecimento de protagonistas entre a adolescência e a juventude), com direito a várias características do gênero como a vizinha atraente Nikki (Tiera Skovbe), a obsessão por revistas de pornografia e o consumo de álcool escondido dos pais. Apesar de sabermos da existência do assassino, é difícil não ver a investigação dos jovens como apenas mais uma distração nas férias.
Levar a história para a década de 1980 também não foi só uma jogada de marketing: a tecnologia da época – ou a falta dela – ajuda a criar tanto momentos tensos quanto cômicos, dos problemas nos walkie takies a brigas sobre quem fica com a revista masculina recém-adquirida. Não fossem as referências claramente jogadas nos diálogos, a experiência de imersão ficaria completa.
Outro problema no filme é a falta de consistência de alguns personagens. A personalidade de Nikki, por exemplo, muda completamente entre uma cena e outra e os problemas pessoais dos jovens Woody (Caleb Emery) e Eats (Judah Lewis) aparecem absolutamente do nada.Ainda assim, o longa entrega bem sua proposta original – a mistura de gêneros. Entre um ato e outro, a produção troca de comédia para suspense com facilidade e em momento algum essa mudança parece forçada. A trilha sonora, composta por diversas notas de sintetizador, dão o tom perfeito para cada momento e é quase um personagem à parte.
Grande diferença do filme para Stranger Things, a ameaça humana e realista de Verão de 84 torna o terceiro ato algo verdadeiramente assustador. As cenas após a revelação da identidade serial killer talvez botassem medo até no grupo de jovens de Hawkins, com o diálogo final entre Davey e o assassino sendo capaz de arrepiar até o mais corajoso espectador.
Dirigido pelo trio RKSS, formado por François Simard e Anouk e Yoann-Karl Whissel, Verão de 84 não é necessariamente uma obra-prima e, apesar de algumas ideias mal realizadas, é uma ótima opção para quem quer passar o tempo com um filme divertido.
Ano: 2018
País: Estados Unidos e Canadá
Classificação: 14 anos
Duração: 105 min
Direção: Anouk Whissell, Yoann-Karl Whissell, François Simard
Roteiro: Stephen J. Smith, Matt Leslie
Elenco: Rich Sommer, Tiera Skovbye, Graham Verchere, Judah Lewis, Caleb Emery