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Crítica

Crítica: Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei

Documentário panorâmico resgata a imagem e o som de Wilson Simonal

14.05.2009, às 17H00.
Atualizada em 05.11.2016, ÀS 10H10

Fica difícil discordar de quem acha Wilson Simonal (1939-2000) um dos grandes intérpretes da música do país, quando em dueto com Sarah Vaughan ele canta "The Shadow of Your Smile" na TV Tupi. O documentário Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei reproduz integralmente os quatro minutos da performance do casal. Para um filme que se propõe ágil e didático, narrativa e esteticamente, esses quatro minutos, ainda que sublimes, passam como uma eternidade.

Mas faz todo o sentido que os diretores Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal optem pela canção completa. Por anos o cantor foi um fantasma, um renegado, escanteado pela sua geração e ignorado pelos mais novos, e ninguém melhor para reapresentá-lo do que o próprio Simonal, no palco, com seu suingue de malandro e sua voz de crooner. A primeira metade de filme é, basicamente, uma demonstração contínua do talento do biografado, um apanhado do seu repertório consagrado - de "Mamãe Passou Açúcar em Mim" e "Meu Limão, Meu Limoeiro" à versão "patropi" de "País Tropical".

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Se é preciso reapresentar Simonal, adequadas são também as inserções de aspas de entrevistados. Em um documentário escudado em talking heads, faz toda a diferença ter gente que, além de saber do que está falando, sabe falar conciso. Aqui, por conta de uma lista de entrevistados que lidam com comunicação, de Chico Anysio a Nelson Motta, essas aspas são em sua maioria bastante sintéticas. Não há excessos ou desperdícios, enfim, em Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei.

Há os temas obrigatórios. A segunda metade aborda o imbróglio com a ditadura que levou Simonal ao ostracismo - não havia nada pior nos anos 70 do que um artista ser visto por seus pares como delator - e chega-se a um consenso, disseminado hoje, de que Wilson Simonal era no fundo um ingênuo. Um sujeito que acreditava piamente ser capaz de jogar uma Copa do Mundo só podia mesmo ser um ingênuo. Luís Carlos Miéle tem, no filme, termos talvez mais apropriados: "Simonal era politicamente irresponsável".

O grande trunfo do trio de diretores - num documentário que até então se desenhava entre o chapa-branca e o descontraído, com fotos de arquivo de bordas arredondadas e cenas dos merchands que Simonal fazia pra Shell - é procurar o contador que Simonal havia acusado lá atrás de ter roubado seu dinheiro, o episódio que desencadeou a celeuma política. Raphael Viviani foi encontrado depois que a produção contratou um detetive particular. Seu depoimento à câmera não encerra a questão, pelo contrário, mas não deixa de ser um documento importante em um filme até então panorâmico.

O caso é que Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei se inclui em um painel mais amplo. Está em curso desde o início da década - na sequência do moderado sucesso dos filhos da black music brasileira na gravadora Trama, com Max de Castro e Simoninha alçando carreira sem a sombra do pai - uma recuperação da memória e da obra do cantor. A EMI produziu um CD de remixes e relançou em 2004, em caixa de luxo, os disco de Simonal na velha Odeon. Em agosto deste ano sai a primeira biografia oficial, Nem Vem que Não Tem: A Vida e o Veneno de Wilson Simonal, de Ricardo Alexandre, pela Editora Globo, e, antes disso, em junho, a Record publica em forma de livro uma tese de doutorado em história, Simonal: Quem não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga, de Gustavo Alonso Ferreira.

Nesse resgate, o filme vale como resumão.

Saiba onde o filme está passando

Nota do Crítico
Bom
Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei
Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei
Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei
Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei

Ano: 2008

País: Brasil

Classificação: LIVRE

Duração: 86 min

Onde assistir:
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