Keira Kneighley em Segredos Oficiais/Diamond Films

Créditos da imagem: Diamond Films/Divulgação

Filmes

Crítica

Segredos Oficiais

Inspirado em história real, filme vai além do drama de tribunal comum com ótimas atuações e roteiro dinâmico

Omelete
4 min de leitura
30.10.2019, às 19H45.
Atualizada em 28.07.2022, ÀS 09H49

Apesar de não ser constante, o vazamento de informações confidenciais do governo tem recebido uma boa cobertura de Hollywood, especialmente após o lançamento do site WikiLeaks, que divulgou segredos de Estado de diversos países. Apesar de seguir a mesma temática de O Quinto Poder (2013) e Snowden (2016), Segredos Oficiais não se limita a apresentar as pessoas por trás da história, mas torna o caso da publicação de um comunicado do governo britânico em um suspense envolvente, elevado por atuações extremamente inspiradas.

O longa é baseado no caso de Katherine Gun (Keira Kneighley), uma tradutora do Government Communications Headquarters (GCHQ, agência da inteligência britânica responsável por vigiar os meios de comunicação) que, em 2003, vazou uma ordem de seus superiores para, a pedido do governo dos Estados Unidos, espionar membros do Conselho de Segurança da ONU para adquirir informações que pudessem ser usadas para convencer as delegações a votarem a favor da guerra do Iraque. Considerando o pedido ilegal e com remorso pelas vidas que seriam perdidas no caso de um confronto, Gun encontrou um jeito de publicar a ordem, sendo então enquadrada no Ato de Segredos Oficiais da constituição britânica, que proíbe qualquer empregado do governo de compartilhar informações consideradas sigilosas com pessoas fora do trabalho.

Partindo deste ponto, o filme de Gavin Hood (Ender’s Game) passa a seguir os acontecimentos no período de um ano após a publicação do e-mail recebido por Katherine no jornal conservador Observer. Com extremo cuidado para não vitimizar demais sua protagonista, o diretor dá o mesmo tempo para as repercussões do escândalo na mídia, nas instituições públicas e no debate popular, cada um com sua própria visão sobre os atos de Gun.

Dissecando cada consequência do vazamento, Hood cria duas tramas separadas, embora completamente dependentes: a vida da mulher que, aos 28, passa a ser acusada de alta traição pelo próprio governo e o papel da mídia no escândalo, em núcleo liderado por Martin Bright (Matt Smith), jornalista que assinou a matéria do Observer. Mesmo sem uma comunicação direta entre as personagens, não há um diálogo ou ação de Gun que não reflita no trabalho de Bright, que por sua vez afeta a vida da moça a cada linha que publica, mesmo sem saber seu nome.

Apesar de se tratar de uma biografia, o longa resiste ao impulso de idealizar seus heróis. Katherine fraqueja em diversos momentos e se arrepende das ações logo que vê seu documento publicado, Bright se delicia com o sucesso de sua reportagem e Ben Emmerson (Ralph Fiennes), advogado de Gun, se utiliza de um argumento extremamente arriscado na defesa de sua cliente na tentativa de vencer um velho conhecido nos tribunais. Essa exposição das personagens, somada às boas atuações do elenco, não só facilita a identificação com o público como também cria uma tensão que raramente se vê em dramas de tribunal hoje em dia.

O trabalho dos atores também eleva Segredos Oficiais para uma categoria à parte dentro do gênero. Fiennes dá a Emmerson não só o ar de autoridade e experiência necessária a um advogado prestes a enfrentar o governo, mas também a determinação inigualável de alguém disposto a batalhar por um ideal. Já Knightley carrega absolutamente todo o peso emocional do filme em uma das melhores atuações de sua carreira. Do trio de protagonistas, o único que destoa é Matt Smith: mesmo longe de entregar uma atuação ruim, o inglês ainda se vê preso aos maneirismos que o tornaram famoso em Doctor Who e sua performance pode se tornar distrativa para quem acompanhou seu período na clássica série britânica.

Apesar disso, o núcleo de Smith é o mais interessante do filme. A forma como Hood retrata a cobertura midiática é extremamente realista, mostrando veículos e jornalistas que colocam as ideologias e interesses de seus empregadores acima da notícia, ou que mudam radicalmente seus discursos ao perceberem o potencial econômico de uma matéria. Mesmo contando a história de uma mulher que arriscou tudo ao tentar impedir uma guerra ilegal, Segredos Oficiais pintou um quadro assustadoramente realista sobre a maneira como o jornalismo é feito, especialmente no século XXI.

Em quase duas horas ininterruptas de tensão, o longa perde um pouco do fôlego em seu terceiro ato, quando o foco narrativo muda de Katherine para Emmerson. Apesar do trabalho impressionante de Fiennes, a diminuição repentina de ritmo assusta e o filme só recupera sua boa forma nos cinco minutos finais, durante o julgamento de Gun. 

Brilhante em quase toda a sua projeção e acima da média até em seus poucos pontos fracos, Segredos Oficiais é mais do que apenas uma importante história real levada às telonas, é um exemplo a ser seguido por produções biográficas futuras e um novo destaque para praticamente todos os envolvidos, incluindo seus já consagradíssimos atores.

Nota do Crítico
Ótimo
Segredos Oficiais
Official Secrets
Segredos Oficiais
Official Secrets

Ano: 2019

País: Reino Unido, EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 112 min

Direção: Gavin Hood

Roteiro: Sara Bernstein, Gregory Bernstein, Gavin Hood, Marcia Mitchell

Elenco: Keira Knightley, Matt Smith, Ralph Fiennes

Onde assistir:
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