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Crítica

Crítica: Import/Export

Não há felicidade possível na pessimista Europa do austríaco Ulrich Seidl

MH
07.05.2009, às 17H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H47

Segundo o pessimista Import/Export (2007), viver não é apenas um fardo, é principalmente um processo de desumanização. Pelo menos no eixo Áustria-Ucrânia, via Eslováquia - o cenário onde se dão as importações e exportações do filme do austríaco Ulrich Seidl.

De um lado, a ucraniana Olga (Ekateryna Rak), abafada por opções de trabalho que vão de faxina e enfermaria a pornografia em webcam para estrangeiros, sonha com uma vida melhor na Áustria, onde vive uma amiga. Do outro, o austríaco Pauli (Paul Hoffman) não se dá bem como segurança de um shopping e decide entrar para o mercado de exportação de máquinas de videopôquer para a Ucrânia. Caminhos opostos, desilusões idênticas.

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Não há felicidade possível nesse miolo europeu na visão de Seidl - nessa terra de capitalistas que comercializam tudo por sexo e de ex-soviéticos que mantêm seus monumentos de foguetes de pé, enquanto o lixo se espalha pelo chão - porque toda relação se dá pela violência. Seja a forma como o dono trata seu cão, como um instrutor ensina seus alunos, ou mesmo como enfermeiros acodem velhos doentes, o contato com o próximo já deixou de ser há muito tempo um contato entre iguais. A Europa de Ulrich Seidl é uma Europa de hierarquias.

Não vem ao caso discutir se é assim também na vida real. O que importa é que Import/Export se escuda nessa crença - ou melhor, nessa descrença - e a martela até o fim. A direção de fotografia do veterano estadunidense Ed Lachman, conhecido por seus trabalhos com Steven Soderbergh (O Estranho, Erin Brockovich) e Todd Haynes (Longe do Paraíso, Não Estou Lá), reforça o pessimismo.

Quando a ideia é mostrar o determinismo esmagando os protagonistas, opta-se pela câmera em tripé, fixa, de fora para dentro de uma saleta apertada. Quando há alguma ação mais movimentada, em exteriores, então a câmera na mão entra com um senso de urgência, colada aos personagens, para não cessar de sufocar. Uma exceção é o traveling lateral que mostra os cubículos das enceradeiras, todas iguais, fazendo o mesmo trabalho - também com a intenção de reiterar a coisificação de ofícios e pessoas.

É uma mistura de discurso com opção estética que encontra entre os niilistas (ou entre os masoquistas) seu público preferencial. O espectador que preserva esperança no mundo, porém, ou pelo menos que sabe distinguir observação de manipulação, pode se incomodar com a forma como Seidl julga seus personagens. Basta um sujeito se despir e exibir seus músculos diante do espelho para ficar definido que é um tipo vulgar, por exemplo.

Import/Export se encaixa, portanto, naquela categoria de filmes que enxergam o copo sempre meio vazio, não necessariamente por ser cético em essência, mas talvez porque prefira assim.

Onde assistir ao filme

Nota do Crítico

Regular
Marcelo Hessel

Import Export

Import Export

2007
08.05.2009
141 min
Drama
País: Austria
Classificação: 18 anos
Direção: Ulrich Seidl
Elenco: Ekateryna Rak, Paul Hofmann, Michael Thomas, Susanne Lothar, Natalya Baranova, Natalja Epureanu, Maria Hofstätter, Georg Friedrich, Erich Finsches, Johannes Nussbaum
Onde assistir:
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