Crítica: Import/Export
Não há felicidade possível na pessimista Europa do austríaco Ulrich Seidl
Segundo o pessimista Import/Export (2007), viver não é apenas um fardo, é principalmente um processo de desumanização. Pelo menos no eixo Áustria-Ucrânia, via Eslováquia - o cenário onde se dão as importações e exportações do filme do austríaco Ulrich Seidl.
De um lado, a ucraniana Olga (Ekateryna Rak), abafada por opções de trabalho que vão de faxina e enfermaria a pornografia em webcam para estrangeiros, sonha com uma vida melhor na Áustria, onde vive uma amiga. Do outro, o austríaco Pauli (Paul Hoffman) não se dá bem como segurança de um shopping e decide entrar para o mercado de exportação de máquinas de videopôquer para a Ucrânia. Caminhos opostos, desilusões idênticas.
import/export
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Não há felicidade possível nesse miolo europeu na visão de Seidl - nessa terra de capitalistas que comercializam tudo por sexo e de ex-soviéticos que mantêm seus monumentos de foguetes de pé, enquanto o lixo se espalha pelo chão - porque toda relação se dá pela violência. Seja a forma como o dono trata seu cão, como um instrutor ensina seus alunos, ou mesmo como enfermeiros acodem velhos doentes, o contato com o próximo já deixou de ser há muito tempo um contato entre iguais. A Europa de Ulrich Seidl é uma Europa de hierarquias.
Não vem ao caso discutir se é assim também na vida real. O que importa é que Import/Export se escuda nessa crença - ou melhor, nessa descrença - e a martela até o fim. A direção de fotografia do veterano estadunidense Ed Lachman, conhecido por seus trabalhos com Steven Soderbergh (O Estranho, Erin Brockovich) e Todd Haynes (Longe do Paraíso, Não Estou Lá), reforça o pessimismo.
Quando a ideia é mostrar o determinismo esmagando os protagonistas, opta-se pela câmera em tripé, fixa, de fora para dentro de uma saleta apertada. Quando há alguma ação mais movimentada, em exteriores, então a câmera na mão entra com um senso de urgência, colada aos personagens, para não cessar de sufocar. Uma exceção é o traveling lateral que mostra os cubículos das enceradeiras, todas iguais, fazendo o mesmo trabalho - também com a intenção de reiterar a coisificação de ofícios e pessoas.
É uma mistura de discurso com opção estética que encontra entre os niilistas (ou entre os masoquistas) seu público preferencial. O espectador que preserva esperança no mundo, porém, ou pelo menos que sabe distinguir observação de manipulação, pode se incomodar com a forma como Seidl julga seus personagens. Basta um sujeito se despir e exibir seus músculos diante do espelho para ficar definido que é um tipo vulgar, por exemplo.
Import/Export se encaixa, portanto, naquela categoria de filmes que enxergam o copo sempre meio vazio, não necessariamente por ser cético em essência, mas talvez porque prefira assim.