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Filmes
Crítica

Crítica: Bubble - Uma nova experiência

Bubble - Uma nova experiência

MH
06.07.2006, às 00H00.
Atualizada em 10.01.2017, ÀS 10H08

Uma crítica de cinema perfeita não tem adjetivos, mas substantivos. Nada de achismos, só constatações. Julgamentos de valor também são o coração do novo filme de Steven Soderbergh, Bubble - uma nova experiência, e é evidente o empenho do diretor em nos apresentar os seus personagens com o mínimo de adjetivos presos a eles.

Não é fácil criar uma história sobre questões morais sem assumir uma postura superior, de juiz, de dono dos personagens. Antes de mais nada, a imparcialidade exige humildade. E vindo de alguém que foi indicado ao Oscar de melhor diretor duas vezes num mesmo ano - em 2001, por Traffic e Erin Brockovich - a decisão de fazer um filme pequeno, curto, conciso, de poucos personagens, se esforçando em não condená-los por antecipação, é o primeiro motivo pelo qual Bubble vale um minuto de atenção.

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Na verdade, 73 minutos - o filme é curto mesmo, mas nunca apressado. Ambienta-se numa cidadezinha não identificada do Meio-Oeste dos Estados Unidos, onde Martha (Debbie Doebereiner), Kyle (Dustin James Ashley) e Rose (Misty Dawn Wilkins) trabalham numa fábrica de bonecas. São personalidades totalmente diferentes. Martha é ruiva, obesa, sulista típica, atenta aos cuidados com o pai idoso. Kyle é jovem, quieto, vive com a mãe, não completou os estudos. Rose é bonita, jovem também, acabou de chegar à cidade, com a filha nos braços. A falta de perspectivas os uniu, mas um crime voltará a dividi-los.

Daria, já no primeiro contato, para dizer que Martha é desinteressante, que Kyle é um perdido, que Rose é arrogante - mas daí já entram os adjetivos. Soderbergh tenta evitar essa classificação com as ferramentas de que dispõe. Constrói situações e diálogos naturalistas, aparentemente banais, mas não artificiais. Emprega elipses de tempo e encaixa a bela trilha sonora de maneira espartana. E enquadra os personagens dignamente, com close-ups à altura dos olhos, sem floreios ou movimentos desnecessários de câmera. Minimalismo é o seu substantivo.

E Bubble só consegue se apresentar assim, almejando a verdade, porque o seu elenco é constituído de formidáveis não-profissionais. O caso emblemático é o de Debbie Doebereiner. Por 24 anos ela trabalhou no KFC, a rede de frango frito fast-food, em Parkersburg, West Virginia. Aposentou-se na mesma época em que Bubble começou a ser formulado. Se a idéia do diretor era retratar a vida na cidadezinha estadunidense do que jeito que ela é de fato, nesse ponto conseguiu. Debbie É Martha.

A própria decisão de localizar a trama nessa terra estereotipada - que nos faz lembrar de refrigerantes tamanho extra-grande, caminhonetes empoeiradas e cortinas cheias de babados - tem a ver com a desmitificação, o estouro da bolha, que Soderbergh propõe. É o seu trabalho de Hércules humanizar aquelas pessoas que, aos olhos antiamericanos, são só os caipiras ignorantes da Era Bush. Ou, para usar uma imagem decisiva no filme, os bonecos manufaturados, pedaço por pedaço, da nossa sociedade sem alma.

Que o público escolha por si mesmo, essa é a idéia. Porque, em última instância, cabe somente ao espectador eleger um daqueles três protagonistas para ser sua imagem, sua representação. A maneira como cada pessoa enxerga Kyle, Rose e Martha tem a ver, essencialmente, com a maneira como essa pessoa se vê no mundo. E daí vem o plot twist, a reviravolta da trama, o crime que, dependendo de quem assiste, pode ser hediondo ou absolutamente justificável. Roubando o mote daquele outro filme, de que lado você vai ficar?.

Abrir um leque de opções é o grande valor do filme. O minimalismo não apenas contribui para a dignidade dos personagens como também para ofertar uma variedade de interpretações possíveis. Bubble é um conto moral, mas dá para enxergar ali, também, tanto uma história de amor platônico quanto um processo de martirização. Nos poucos momentos antinaturalistas, flerta com a santificação.

O novo pequeno filme indie de Soderbergh não é irretocável, não é a obra-prima do cineasta (ainda que sinalize um bem-vindo retorno à simplicidade, depois de egocentrismos como Full frontal). Da mesma forma, esta crítica esteve longe da perfeição: é difícil falar de uma obra em que os segredos da trama são peça-chave da discussão. Mas a campanha do Adjetivo Zero, ainda que um tanto utópica, segue de pé.

Nota do Crítico

Ótimo
Marcelo Hessel

Bubble - Uma nova experiência

Bubble

2005
07.07.2006
73 min
Drama
País: EUA
Classificação: 14 anos
Direção: Steven Soderbergh
Roteiro: Coleman Hough
Elenco: Debbie Doebereiner, Omar Cowan, Dustin James Ashley, Phyllis Workman
Onde assistir:
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