Crítica: Bem-vindo à selva
Bem-vindo à selva
Sete vezes campeão mundial de luta livre, The Rock seguiu os passos de outro famoso lutador, Hulk Hoogan, e foi tentar a sorte no showbusiness. A diferença é que em vez de se limitar a filmes de baixo orçamento ou pontas em longas-metragens de gosto duvidoso, The Rock já começou por cima, num projeto de orçamento alto, O retorno da Múmia (The Mummy returns, de Stephen Sommers - 2001).
Foi aprovado e conseguiu, já para o ano seguinte, a chance de estrelar seu próprio filme, Escorpião Rei (The Scorpion King, 2002), produto derivado da série A Múmia. Para esta fita, ele viu seu salário pular para 5,5 milhões de dólares, o que o colocou no livro dos recordes como o maior salário para um ator que protagonizava pela primeira vez. Agora, em seu terceiro filme, um novo salto no seu contracheque. Para participar de Bem-vindo à selva (Rundown, 2003) ele recebeu 12,5 milhões e em seu próximo projeto, Walking Tall (previsto para estrear este ano nos Estados Unidos) ele faturou 15 milhões.
Bem-Vindo à Selva
Bem-Vindo à Selva
Bem-Vindo à Selva
E quer saber? Começo a achar que ele vale! The Rock tem mais músculos que Vin Diesel, quase tanto carisma quanto Schwarzenegger e atua melhor do que todos estes fortões juntos. Se você não acredita, basta ver seu desempenho nesta aventura cômica que estréia por aqui neste fim de semana. Quando ele fala, não soa falso como Van Damme e quando luta, é para valer, não é aquela papagaiada do Rocky Balboa, que apanha 14 rounds para virar o jogo no último e derradeiro assalto. E tem mais, ele é engraçado sem ser patético ou fazer o tipo grandão desengonçado.
Welcome to Brazil
Então, quer dizer que este filme novo dele é ótimo? Calma, não é assim também. Beck (The Rock) é um destes fortões intimidadores que é contratado para cobrar dívidas. Mas ele é, pelo menos inicialmente, bastante bonzinho, não usa armas e só quer sair o quanto antes deste ramo. Para isso, aceita um último trabalho, que lhe dará o dinheiro suficiente para abrir seu restaurante (algumas mesinhas, nada muito fino). Sua missão é vir até o Brasil e, no meio da floresta amazônica, achar Travis, o filho de um chefão americano para levá-lo de volta a Los Angeles. O problema é que o tal rapaz (Seann William Scott) está perto de achar um artefato histórico que o deixará rico e, por isso, está na mira do manda-chuva local (Christopher Walker, mais charlatão impossível), que comanda um esquema de escravidão para explorar minas de ouro, e dos guerrilheiros rebeldes. Tem também uma tal Mariana (Rosario Dawson), cujo papel até é importante, mas a atuação dela é tão fraca que é melhor deixar para lá.
Enfim, a trama não tem nada de inovadora, mas mesmo assim, cria várias situações divertidas, como as inúmeras desavenças entre Travis e Beck, os babuínos (macacos tipicamente brasileiros???) tarados e... bom, o mais engraçado mesmo (para a gente, pelo menos) é ver e ouvir a dublabem tosquíssima que eles colocaram em cima dos "brasileiros". É algo digno dos filmes que passam à tarde no SBT. Quando o líder da resistência - um sujeito com traços orientais que luta uma arte marcial e dá alguns mortais para parecer que é capoeira - abre a boca, sai aquela voz bem carioca, num volume completamente diferente das outras vozes. Tudo sem o menor cuidado de sincronia labial, claro.
Mas, como brasileiro, pelo menos uma coisa tem de ser elogiada: os cenários. Tanto a cidade de El Dorado, quanto as minas e a floresta estão bastante convincentes. No pequeno vilarejo, dá para ver farmácias e bares com pôsteres das cervejas que se compra em qualquer boteco de esquina. A mina, então, parece até um trecho de um daqueles Globo Reporter sobre a Serra Pelada. O "dublê" da floresta amazônica foi uma das ilhas no Havaí, onde foram filmadas muitas das cenas. O Brasil de verdade, ficou só na intenção e na lembrança da equipe técnica, que veio até aqui para pesquisar algumas locações, mas desistiu quando foi assaltada por bandidos nos arredores de Manaus. A experiência serviu para criar alguns diálogos e de inspiração para os figurinos dos rebeldes. Uma pena, pois além de queimar o filme do Brasil, o país acabou mais uma vez sendo retratado pelos olhares viciados dos gringos.