Crítica: Amor Extremo
Em tempos de guerra, nem mesmo os poetas podem se dar ao luxo do devaneio
De efêmera carreira como atriz nos anos 70, Sharman Macdonald desde os anos 80 se dedica a escrever peças de teatro, e talvez seja mais conhecida hoje em dia por ser a mãe de Keira Knightley. O primeiro roteiro dela escrito especificamente para cinema é a base de Amor Extremo, do diretor John Maybury (Camisa de Força).
Quando alguém poderia pensar que a filha teria espaço privilegiado em cena, eis que Keira já surge, sob os holofotes, com batom vermelho marcante, no papel de Vera Phillips. Transcorre a Segunda Guerra, e ela trabalha como cantora para entreter os londrinos diante de más perspectivas. Em uma noite de apresentação, ela reencontra o amigo de infância Dylan Thomas (Matthew Rhys) e é observada, sem saber, pelo oficial do exército William Killick (Cillian Murphy) - dois homens que vão definir seu futuro.
Até ali, pela forma como a ação é encenada, a guerra é menos uma realidade do que uma idealização. Parece um mundo paralelo, aquele dos bares subterrâneos improvisados de Londres - o poeta Dylan Thomas trabalha para a propaganda do governo mas fica alheio ao combate, sua esposa Caitlin (Sienna Miller), com aquele jeito típico da atriz de fazer pose levantando o ombro, é outra miragem, e por fim Vera Phillips está desconectada, sonhando acordada com a adolescência que passava com Dylan no País de Gales.
Quando Vera enfim sai para a rua e vemos barricadas e escombros, o set é iluminado com artificialismo - parece que estamos em uma cena de Technicolor, diante de um fundo pintado, evocando os dramas grandiosos da Hollywood dos anos 40. A música de Angelo Badalamenti contribui para a sensação de deslocamento. A guerra, enfim, a guerra de verdade, é uma imagem que Amor Extremo só consegue enxergar com esses olhos românticos de Caitlin, Vera e Dylan - que, como pode-se esperar, logo se tornam o triângulo amoroso motor da trama.
Mas eis que temos William Killick, o homem que conheceu o terror do front de perto, e uma hora todo esses deslumbramento de Amor Extremo dá lugar a um real pesadelo - não só o pesadelo de não conseguir apagar imagens da batalha, mas também de não conseguir relevar ciúmes e rancores.
O filme pode ser visto, então, tanto como uma trama feminina de amor rachada pela história do homem, como uma crônica sobre a Segunda Guerra contada sob a perspectiva dos incautos espectadores. O fato é que John Maybury filma de forma segura uma ideia melancólica: em tempos de guerra, nem mesmo os poetas podem se dar ao luxo do devaneio.
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Amor Extremo
The Edge of Love