Jessie Buckley em cena de Men, filme de Alex Garland

Créditos da imagem: Divulgação

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Com Men, Alex Garland discute o terror das mulheres e a crise da masculinidade

Terceiro longa do diretor foi exibido na mostra paralela Quinzena dos Realizadores, em Cannes

Omelete
3 min de leitura
23.05.2022, às 12H37.
Atualizada em 14.09.2022, ÀS 13H10

De Alex Garland, sempre se pode esperar um visual inventivo. Men, seu terceiro longa-metragem como diretor, começa com uma cena impressionante, que não vamos descrever aqui por motivo de spoilers. O filme teve sua primeira exibição na Quinzena dos Realizadores, mostra paralela à seleção oficial do Festival de Cannes, na noite do domingo (22).

Depois de Ex Machina (2014) e Aniquilação (2018), Garland coloca novamente uma mulher no centro de sua narrativa. Em Men, a protagonista é Harper (Jessie
Buckley), que aluga uma casa no interior da Inglaterra para se recuperar de uma perda: o fim traumático de seu casamento com James (Paapa Essiedu). Seu primeiro ato ao entrar na casa é, como Eva, comer uma maçã saída diretamente da árvore.

Seu anfitrião é Geoffrey (Rory Kinnear), um sujeito falante que nunca dispensa a oportunidade de fazer uma piada sem graça. Mas tudo bem, pensa Harper: logo
estarei sozinha curtindo a casa e as caminhadas no meio da verdejante paisagem da região. 

Claro que se fosse só isso não haveria filme. Na primeira saída, ela encontra um túnel e, de repente, uma brincadeira de fazer eco vira pesadelo. A produção evita a armadilha de que tudo é fruto da imaginação de Harper. Porque Men é um filme de terror sobre os terrores grandes e pequenos, as agressões grandes e pequenas, físicas ou psicológicas, que compõem a vida de uma mulher.

Os homens do título, que são os causadores desses terrores e agressões, são todos representados de forma mais do que competente por Rory Kinnear. Ele se alterna no papel do vigário, do adolescente-problema, do policial, do barman. Mas é a estrela em ascensão irlandesa Jessie Buckley quem realmente brilha nesse dueto, com uma composição que alterna o mais absoluto pavor com maravilhamento, fúria e fragilidade, calor e frieza, alívio e aflição.

Há momentos bem viajantes em Men, nem tudo faz sentido completo, e Garland não é exatamente sutil, mas algumas cenas são tão absurdas de lindas ou tão absurdas de absurdas que vão ficar marcadas mesmo assim. 

O filme está menos interessado em encaixar todas as partes do roteiro do que em evocar esse arrepio na espinha que toda mulher sente quando tem a impressão de estar sendo seguida ou observada. De que em um segundo uma resposta negativa pode gerar uma agressão do nada. De que o mundo, em suma, lhe é um lugar hostil.

Men no fundo está discutindo a crise da masculinidade e jogando para os homens a pergunta: por que nós nos comportamos dessa maneira? Alex Garland não oferece respostas ou caminhos muito claros. Mas deixa bem claro que os homens são, na verdade, menos fortes do que acham ser e com certeza mais fracos do que as mulheres, a quem costumam culpar por falhas que são deles.

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