Cinderela é um conto de fadas competente, mas um musical terrível

Créditos da imagem: Camila Cabello em cena de Cinderela (Reprodução)

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Crítica

Cinderela é um conto de fadas competente, mas um musical terrível

Talentos do elenco são perdidos em roteiro que não faz ideia de como usar música para contar a sua história

Omelete
3 min de leitura
01.09.2021, às 13H00.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H47

A impressão que fica ao final de Cinderela é que Kay Cannon não fazia ideia do que estava se metendo quando aceitou escrever e dirigir uma versão musical modernizada do clássico conto da órfã maltratada pela madrasta que acaba se casando com o príncipe de seu reino. O resultado é um filme que simplesmente não entende a mecânica do musical tradicional, a forma como as músicas servem (ou deveriam servir) para contar a história e ilustrar o mundo interno dos personagens, as dinâmicas entre eles.

É fácil entender por que isso aconteceu quando se leva em consideração que Cannon é a criadora da franquia A Escolha Perfeita, uma boa comédia de amadurecimento que usava a música como fator de entretenimento, não como dispositivo narrativo. As Bellas não contavam suas histórias através das apresentações no palco - as performances eram apenas a culminação de uma história que era contada fora dos números musicais. 

Isso funcionava bem para uma trama sobre um grupo de acapella universitário. Não funciona para um conto de fadas no qual os personagens não têm nenhum motivo real para sair cantando por aí. O que é uma pena, porque o que Cannon prova que sabe fazer bem é atualizar o conto de fadas original de maneira esperta, humanizando os seus personagens e conectando-os através de temas contemporâneos e um bom humor afiado.

A nova versão de Cinderela (Camila Cabello) é uma jovem que sonha se tornar estilista, e que vai ao baile no palácio na esperança de conseguir contatos para lançar a sua carreira. Enquanto isso, o príncipe Robert (Nicholas Galitzine) é um rapaz rebelde sem interesse algum em herdar a coroa do pai, o rei Rowan (Pierce Brosnan) - ao contrário de sua irmã, a princesa Gwen (Tallulah Grieve), cheia de ideias progressistas para melhorar a administração do reino.

O roteiro de Cannon costura esses e outros personagens com habilidade, abrindo espaço para subtramas que nunca parecem ser negligenciadas em favor do romance central. Sejam os problemas maritais do rei Rowan e da rainha Beatrice (Minnie Driver), ou o discurso amargurado que forma a nova “história de origem” da madrasta Vivian (Idina Menzel), Cinderela é cristalino em sua intenção de dar voz às mulheres da história e entender onde as experiências de silenciamento delas se juntam. 

Tudo isso com um verniz otimista e pró-establishment, claro - este é um filme de grande estúdio, não um indie com ideias revolucionárias. Há algo de espinhoso na fúria de Driver, excelente (e hilária) como de costume na pele da rainha negligenciada, e na inteligência inflexível de Grieve como uma princesa que, na política americana de 2021, talvez fosse taxada como socialista. Elas são as melhores partes de Cinderela, mas o filme termina, encontrando seu “felizes para sempre”, antes de vê-las em posições de poder.

O problema maior mesmo são as escolhas musicais. Culminando em uma versão lamentável de “Let’s Get Loud” (de Jennifer Lopez), o filme raramente encontra ressonância e coerência narrativa em seus números. Do cover de “Somebody to Love” (do Queen) entoado pelo príncipe à enésima interpretação equivocada de “Material Girl” (de Madonna) pela madrasta, o único momento mais inspirado do filme é a canção original “Million to One”, coescrita e interpretada por Cabello.

Embora não tenha muita oportunidade de mostrar suas verdadeiras habilidades de atuação no filme, a estrela do novo Cinderela contribui com a composição mais genuinamente tocante - e que funciona precisamente porque a canção se conecta à história e à personagem, movendo ambas adiante em letra e ritmo. Talvez, da próxima vez, Camila Cabello possa escrever o filme também.

Nota do Crítico
Regular
Cinderela (2021)
Cinderella
Cinderela (2021)
Cinderella

Ano: 2021

País: Reino Unido/EUA

Duração: 113 min

Elenco: Billy Porter, Camila Cabello, Idina Menzel, Minnie Driver, Pierce Brosnan

Onde assistir:
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