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Crítica

Chuzalongo aposta no folhetim e perde chance de abordar mitologia do Equador

Diego Ortuño se atrapalha com contexto histórico e faz pouco com lenda fascinante do seu país

Omelete
4 min de leitura
31.07.2025, às 08H45.
Atualizada em 04.08.2025, ÀS 16H46
Cena de Chuzalongo (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Chuzalongo (Reprodução)

A lenda do chuzalongo, originada nas regiões montanhosas do Equador, conta de uma criatura diminuta, do tamanho de uma criança de 6 ou 7 anos, mas dona de cabeleira gigante, pele branca, olhos azuis celestes… e um pênis longuíssimo que ele leva enrolado no ombro. Dotado de apetite sexual incontrolável, ele ataca jovens mulheres durante a noite, violando-as e eventualmente assassinando-as - em algumas versões da lenda, até drenando o seu sangue. Surgida durante o período em que os conquistadores espanhóis colonizaram o Equador, a lenda do chuzalongo muito provavelmente foi criada como uma maneira de eternizar em mitologia os abusos sexuais sofridos pelas mulheres indígenas nessa época, e as crianças de herança mestiça que nasciam desses abusos. Um bicho-papão que simbolizava uma violência real, como todo bicho-papão que se preze.

O curioso é que você não vai saber de nada disso assistindo a Chuzalongo, filme escrito e dirigido pelo equatoriano Diego Ortuño, exibido no Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito - Bonito CineSUR 2025. De fato, o cineasta (em seu primeiro longa-metragem de ficção) escolhe mexer tanto na origem, contexto histórico e caracterização da lenda que batiza o seu filme que… bom, ele poderia ter se chamado qualquer outra coisa. Este Chuzalongo se passa no final do século XIX, quando o Equador já se via independente da Espanha, mas sofria convulsões políticas internas graças a um confronto entre ricos donos de terra conservadores e comunidades mais humildes, representadas por uma coalizão política liberal. Esta guerra civil levou não só à violência direta entre facções como também ao desamparo social e à fome nas regiões mais remotas do país - um episódio traumático na história do Equador, o que pode explicar a vontade de Ortuño de abordá-lo.

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Acontece que o roteiro de Chuzalongo se embaraça nos fios desse contexto histórico. É no início da guerra civil que encontramos o padre Nicanor (Bruno Odar), um sacerdote bondoso que bate de frente com o rico Don Alfonso (Alex Cisneros) ao defender os direitos dos indígenas e dos pobres na região. É quando entra em cena Melalo (Wolframio Sinué), um andarilho que leva em sua carroça um segredo: uma criança que dorme o dia todo e acorda à noite com sede de sangue, mas que também tem o poder de fazer crescer colheitas onde antes só existia terra seca. O dilema se constrói aí, em um homem de fé dividido entre a sacralidade da vida e a necessidade de alimentar o povo, entre as obrigações institucionais da Igreja (no Equador, o catolicismo apoiou os conservadores) e o instinto caridoso que aprendeu no seminário. Quais preços são altos demais para pagar?

Ortuño tem aqui, enfim, a arquitetura de uma boa história sobre fome, ganância e revolução “por todos os meios necessários”. Mas é notável que, mesmo com esse propósito em mãos, o seu roteiro pareça à deriva na base do cena a cena - desenha-se muito mal uma história de amor proibida entre uma dondoca branca e um trabalhador indígena, rascunha-se ainda pior a tragédia de um pai que perde suas duas filhas para a criança monstruosa, rabisca-se a doença indefinida da esposa do vilão, principal conexão entre ele e o padre. Com 1h35 em mãos, Chuzalongo nos apresenta um número inconsequente de personagens, e entrecorta entre eles com abandono, no estilo folhetinesco da história de coral. Mas o drama é anêmico até em seus melhores momentos, e o filme acaba se mostrando inchado e arrastado mesmo com sua metragem relativamente modesta.

Pior ainda, nessa dedicação dramatúrgica equivocada Ortuño acaba perdendo a oportunidade de criar um filme de horror genuinamente memorável a partir de uma figura folclórica latina cheia de implicações e sugestões imagéticas arrepiantes. Há somente um par de cenas que indicam a aproximação com o gênero, e elas não são mal-conduzidas - um ataque executado através das sombras na parede é especialmente memorável, enquanto outra aparição da criança-monstro se destaca pelos olhos vermelhos brilhando na escuridão (sempre um recurso sinistro). Mas Chuzalongo é, no máximo, um filme de vampiro pela metade, um filme de terror religioso pela metade, um conto folclórico sombrio pela metade. Seu foco num dilema político que esvazia o impacto da lenda na qual foi baseado, e sua insistência incompreensível em suavizar essa mesma lenda para a tela grande, transformam uma boa promessa de gênero em uma amarga decepção.

*Chuzalongo foi exibido no Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito - Bonito CineSUR 2025. Fique de olho no Omelete para a cobertura completa.

Nota do Crítico

Chuzalongo

2024
95 min
País: Equador
Direção: Diego Ortuño
Roteiro: Diego Ortuño
Elenco: Bruno Odar, Alex Cisneros, Wolframio Sinué
Onde assistir:
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