Boa Noite, Mamãe

Créditos da imagem: Prime Video/Divulgação

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Crítica

Boa Noite, Mamãe | Remake pasteuriza original e entrega drama e terror covardes

Atuação magnética de Naomi Watts não dá propósito a versão americana de filme austríaco

Omelete
3 min de leitura
19.09.2022, às 14H09.
A eficiência que garantiu ao austríaco Boa Noite, Mamãe (2014) sua notoriedade global sempre esteve no emprego consciente de múltiplas vertentes do terror de uma só vez. O filme escrito e dirigido por Severin Fiala e Veronika Franz se apresenta como um vagaroso horror psicológico banhado em lirismo fantástico, aos poucos de converte em algo entre o terror corporal e o pornô de tortura, e por fim se amarra como um agustiante drama com implicações de terror existencial. Assim, quando um caminho se mostra vacilante, outro se apresenta e sustenta as tensões que conduzem a trama para um desfecho assombroso não só objetiva, como também subjetivamente.
 
Covarde, o remake americano dirigido por Matt Sobel não consegue mimetizar essa rede de apoio — tornando-se, consequentemente, sem sentido. O Boa Noite, Mamãe! falado em inglês não sustenta o ritmo etéreo que pede a sua abertura cheia de suspense, transicionando entre o psicológico e o fantástico de forma tão brusca e telegrafada que cada tentativa de assustar provoca um riso constrangido diferente. Quando tem a opção de repetir ou expandir os horrores objetivos do ataque ao corpo, que o original tão habilmente equilibrou entre o sugestivo e o grotesco, a nova versão fica só na promessa. E, quando revela sua virada psicológica, se distancia do antecessor apenas na qualidade da execução, fugindo da oportunidade de se mostrar original e ressaltando sua inferioridade técnica.
 
Não ajuda que logo de cara Boa Noite, Mamãe se admita um daqueles remakes americanos feitos puramente pela preguiça que o mercado dos Estados Unidos tem com legendas. Mantendo os nomes germânicos Elias e Lukas para os personagens de Cameron (The Boys) e Nicholas Crovetti (Caça às Bruxas), o novo filme repete o original como um conto sobre gêmeos pré-adolescentes que, em visita à mãe reclusa, estranham seu comportamente e passam a suspeitar de uma impostora. No filme original, a suspeita é potencializada não só pelas bandagens que escondem o rosto da matriarca, como também por um comportamento errático que engloba agressividade, insônia e uma aparente obssessão com insetos. No remake, a agressividade permanece, mas há problemas na solidificação de outras deixas imagéticas que nos coloquem na mente dos garotos.
 
Isso faz com que sequências de sonho, também presentes no filme original, se tornem essenciais para o desenvolvimento do conflito entre eles e ela. Mas, mal decupadas e mal dirigidas para funcionar no orçamento de streaming, elas trabalham mais contra o remake do que a favor. Quem mais sofre com isso são os irmãos Crovetti, com o mais experiente Cameron tendo de sustentar praticamente sozinho a intencionalidade dramática de planos que acabam involuntariamente constrangedores.
 
Se há alguma redenção, ela fica com Naomi Watts, que volta a protagonizar uma recriação quase literal de um filme austríaco de sucesso depois de Violência Gratuita (2007). Experiente em remakes de horror também graças O Chamado (2002), ela se entrega com fé cênica e inteligência de sobra à direção de Sobel, sustentando à risca o balé de estranheza, intimidação e candura que fazem da figura da mãe o grande centro magnético de um filme que invoca indiferença. O que muda aqui é que Michael Haneke sabia exatamente quais porquês o moviam na recriação anglófona de seu próprío Funny Games (1997), fazendo da essência desnecessária uma parte do comentário metalinguístico que propunha. Boa Noite, Mamãe mal sabe o que quer que seu público sinta em cada cena.
 
É uma pena, já que são muitas as implicações filosóficas que uma premissa tão simples apresenta e que Sobel desperdiça. Em seus poucos bons momentos, o remake até consegue repetir o original na evocação de grandes filmes que versam sobre hostilidade sorrateira que habita em relações entre irmãos e entre filhos e mães — A Inocente Face do Terror (1972), Gêmeos - Mórbida Semelhança (1988) e O Anjo Malvado (1993) são alguns deles —, mas isso só piora o quadro geral. Afinal, qualquer comparação é danosa para o medíocre Boa Noite, Mamãe; um filme que ironicamente já nasceu preso a elas.
Nota do Crítico
Ruim
Boa Noite, Mamãe!
Goodnight Mommy
Boa Noite, Mamãe!
Goodnight Mommy

Ano: 2022

Direção: Matt Sobel

Elenco: Naomi Watts, Nicholas Crovetti, Cameron Crovetti

Onde assistir:
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