Bellini e a Esfinge | Crítica
O diferencial consolida-se pelas tiradas ácidas do texto de Bellotto e pelo esmero da produção
Com despretensão, mas uma certa graça, Bellotto nomeou o seu detetive: Remo Bellini, uma mistura de Tony Bellotto com Arturo Bandini, o protagonista de Espere a primavera, Bandini, que John Fante (1909-1983), norte-americano, filho de italianos, escreveu em 1938. "MAS pode servir como uma homenagem ao capitão da Copa de 1958 também", brinca o autor. O nome Remo remete à lenda dos irmãos romanos adotados por uma loba. No livro e no filme, Bellini (Fábio Assunção) perde o seu irmão gêmeo – Rômulo, logicamente - logo após o nascimento. Já detetive, especializado em desvendar adultérios, Bellini tira o seu sustento dos casos que lhe são encaminhados na agência de Dora Lobo (Eliana Guttman). Ao seu lado no encargo, a companheira Beatriz (Maristane Dresch).
Quando o médico Dr. Rafidjian (Paulo Hesse) pede o auxílio da agência para encontrar uma garota de programa, porém, a vida de Bellini muda drasticamente. Enquanto o detetive vasculha o Centro Velho de São Paulo e recebe a ajuda impensada da prostituta Fátima (Malu Mader, esposa de Bellotto), Beatriz segue as pistas que levam a Santos. Nessa linha, a trama se desenrola. Como num típico policial, a investigação esbarra em perseguições, assassinatos e mistérios em série. A vida de Remo Bellini depende da solução dos problemas, como no mito da esfinge egípcia que questionava os homens.
Apesar da repetição dos traços básicos do gênero, o diferencial consolida-se pelas tiradas ácidas do texto de Bellotto e do esmero da produção. Com experiências breves no cinema norte-americano, passagens por equipes de montagem e produção, Santucci soube aproveitar bem os instrumentos de que dispunha em seu segundo longa, o sucessor de Olé, de 2000. O orçamento limitado forçou uma ênfase maior na criatividade do roteiro e, já que o custo dos cenários excedia o planejado, fez das gravações externas no Centro de Sampa um atrativo importante na película – tanto que nem o bairrismo impediu que a fita conquistasse o Prêmio do Público para Melhor Longa de Ficção no Festival do Rio BR 2001. Resta esperar que o sucesso alcance as bilheterias. O cinema (e a literatura) agradecem