Bambi II - O Grande Príncipe da Floresta | Crítica
Bambi II - O grande príncipe da floresta
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O grande barato de ser criança está no olhar. Ver absolutamente tudo o que está ao redor com surpresa e curiosidade. Walt Disney sabia disso. Sua genialidade nunca esteve no roteiro, nem mesmo no traço, que, segundo reza a lenda, não era lá grandes coisas. Mas sem dúvida foi o homem certo na hora certa, que aproveitou seu momento e reciclou velhas fábulas infantis em clássicos do cinema, reinventando-os com sons e cores até então jamais vistos.
Bambi, de 1942, foi o quinto longa-metragem de Walt Disney para a telona. A história, totalmente circular, causa encanto e nostalgia até hoje justamente por mostrar o mundo, com tudo o que tem de bom e ruim, pelos olhos de uma criança, no caso, um filhote de cervo. Os primeiros passos, a primeira chuva, as estações do ano, a perda de um ente querido e, finalmente, a idade adulta e a chegada dos filhos (parte do filme estranhamente esquecida por todos).
Nos dias de hoje, Bambi pode parecer uma aberração para os padrões quadradinhos da indústria. Sua mãe morre a tiros, seu pai parece pouco se lixar para ele e o filme não traz nenhum discurso ressaltando a importância do diálogo entre pais e filhos. Nada disso é um defeito a ser corrigido; trata-se apenas do retrato de uma época, uma indústria, um criador e, é claro, da própria história original, publicada em 1923.
Mais de seis décadas depois, resolveu-se consertar o que não estava quebrado. Não existe um propósito claro para a existência de Bambi 2. Trata-se de um remendo desnecessário, que preenche a lacuna entre a infância e a adolescência do personagem mostrados no original. A seqüência também passa por uma "malufização" e refaz a imagem do pai. Antes totalmente frio, incapaz de dizer uma palavra ao filho que acaba de perder a mãe, ele é transformado em uma figura terna, um herói. É a atual obsessão estadunidense de se discutir a relação com os próprios filhos.
A animação, apesar de a rigor ser bem feita, tem erros crassos e cenas preguiçosas, com personagens sem sombras e animais correndo em loop ao fundo. Os recursos digitais usados para fazer os cenários parecem não ter aproveitado os mais de 60 anos de vantagem e conseguem ser inferiores aos do original. Anos que também trataram de contaminar o roteiro com toda a contemporaneidade hollywoodiana e seus clichês obrigatórios como o reencontro em sonho com a mãe morta, uma piada sobre flatulência e até um vilão que faz piada sobre a sexualidade de Bambi (!!!). Morte e ressurreição causada por uma lágrima? Pode apostar!
O novo filme é ideologicamente antagônico ao primeiro. Nada mais tem cheiro de novo, nem para adultos nem para crianças, hoje muito mais espertinhas do que há sessenta anos. Com motivos de sobra, Bambi 2 entra com todas as glórias para o hall das sequências constrangedoras e caça-níqueis da Disney.


