Se há uma fórmula que a franquia John Wick estabeleceu para o cinema de ação contemporâneo em Hollywood é a de que uma boa dose de porradaria compensa qualquer furo de roteiro ou história mal construída. Se no primeiro filme a morte de um cachorro foi o pontapé inicial para iniciar um derramamento de sangue desenfreado, as sequências só precisaram se preocupar com construção e expansão de mundo e dar qualquer motivo para que Keanu Reeves surgisse batendo em vilões e performando as melhores coreografias que o cinemão norte-americano forneceu nos últimos anos. Em Bailarina, o primeiro spin-off em longa-metragem da franquia, essa fórmula é aplicada com precisão.
Quem acompanha a saga de John Wick vai ao cinema para ver Keanu Reeves usar as mais variadas armas para encarar o rival da vez, mesmo que a motivação da história seja mínima. No caso de Bailarina, entretanto, há uma preocupação maior para que Eve, a personagem de Ana de Armas, tenha um passado com carga dramática bastante para justificar sua ingressão e jornada no mundo dos assassinos Talvez seja esse fator que difere o spin-off dos antecessores. Mas essas amarras caem para segundo plano quando o diretor Len Wiseman entende que o seu maior trunfo é focar na ação.
A história de Eve é apenas mais uma jornada de vingança das milhares que já vimos na cultura pop. Do trauma de infância à motivação de sua independência, tudo é muito genérico. Mesmo os espaços encontrados para encaixar Bailarina dentro da linha temporal de John Wick soam um tanto preguiçosos, na necessidade de dar o fan service que os amantes da franquia esperavam ao saber dos retornos de personagens como Winston (Ian McShane), Charon (Lance Reddick) e do próprio John Wick. Mas quando Ana de Armas surge e começa a comandar o show, tudo isso desaparece como em um piscar de olhos.
Quando não se preocupa em usar muletas de exposição para tentar se explicar demais, ou forçar uma ligação afetiva entre Eve e personagens que não poderíamos ligar menos, Bailarina sobrevive como um grande filme de ação. É nítido o trabalho de corpo que Ana de Armas se propôs a fazer, talvez inspirada na gana com que Reeves tem ao se preparar toda vez que vai retornar ao mundo de John Wick. A fisicalidade é o que move estes filmes, e o terceiro ato grandioso se torna o palco perfeito para que a atriz se afirme como alguém pronta para tomar o protagonismo para si.
A jogada de mestre de Wiseman, por mais que pareça óbvia, é deixar claro que a grande estrela desse filme é Eve. A sombra da presença de John Wick poderia ofuscar a protagonista e escancarar comparações desnecessárias que certamente parte do público faria. Quando Keanu Reeves finalmente surge, é para esclarecer que a bola do jogo não estará com ele. Ana de Armas, então, aproveita o palco e faz com que nos esqueçamos de que há outro grande astro por ali, com direito a até um incrível duelo de lança-chamas.
Para além da expansão de um universo que certamente seguirá em crescimento, o que fica de Bailarina é um alívio de que, mesmo que John Wick de fato se aposente, há lugar para que outros personagens brilhem neste universo criado por Chad Stahelski. O legado de Baba Yaga está em boas mãos.
Bailarina
Ballerina
Ano: 2025
País: EUA
Classificação: 18 anos
Duração: 125 min min
Direção: Len Wiseman
Elenco: Gabriel Byrne , Norman Reedus , Lance Reddick , Ian McShane , Keanu Reeves , Anjelica Huston , Ana de Armas
Comentários ()
Os comentários são moderados e caso viole nossos Termos e Condições de uso, o comentário será excluído. A persistência na violação acarretará em um banimento da sua conta.
Faça login no Omelete e participe dos comentários