Durante a pouco menos de 1h30 de BAEKHYUN: Lonsdaleite, o cantor diz mais de uma vez que subir ao palco durante sua primeira turnê solo foi como “estrear de novo” na indústria do entretenimento. Palavras fortes para um artista que está nos holofotes há mais de uma década - o seu grupo, o EXO, começou no k-pop em 2012 -, mas é fácil acreditar nele quando as imagens do show em si, como registradas pelos diretores Kim Ha-min e Oh Yoon-dong, mostram um performer constantemente apavorado de que tudo desmorone ao seu redor. E, embora isso possa parecer um problema, especialmente em meio à cultura que coloca o popstar em um pedestal de invulnerabilidade, o que se vê em Lonsdaleite é um testamento refrescante do quanto Baekhyun se importa com o seu trabalho.
Esse é o subtexto, é claro, porque os diretores e o astro sabem muito bem que não pode ser o texto. Em cada uma das pausas frequentes que faz nas performances, todas dedicadas a entrevistas com Baekhyun (mesmo quando entrecortadas com imagens de bastidores), o filme tenta seguir à risca a cartilha do fanservice do k-pop: declarações exageradas de amor, que alimentam aquela relação parassocial característica entre fãs e artistas da indústria, e profissões de dedicação ao aperfeiçoamento da arte da performance, tratando-a mais como serviço do que como expressão. De quando em quando, no entanto, escapa uma pontinha de cinismo, uma brincadeira mais ácida que, ela sim, denuncia a cumplicidade entre o artista e o seu público.
Paradoxalmente, é também por essas rachaduras que vai escapando a preocupação genuína de Baekhyun pela qualidade da sua entrega no palco, pela missão de honrar ao vivo as músicas que ele parece verdadeiramente amar. No show, os olhos inquietos denunciam a busca pelo controle dos detalhes da performance e pela validação do público; e, conforme as músicas vão se sucedendo e a tensão se derrete diante do sucesso óbvio da apresentação, os pequenos gestos espontâneos do corpo de bailarinos - que claramente entende o estresse do “chefe” - e a linguagem corporal do artista soletra um alívio que é delicioso de ver, até porque se origina de um esforço observável.
O poder dessa trepidação se manifesta em última instância, é claro, na qualidade da performance. Passeando por um repertório que abraça baladas mais tradicionais, brincadeiras R&B carregadas de sensualidade, e até alguns números feitos para a pista de dança, Baekhyun prova sua elasticidade carismática e apresenta algumas coreografias extraordinariamente ensaiadas. “Bambi”, especialmente, encanta com a fluidez do seu trabalho de acessório - no ponto perfeito do ritmo, o artista vai deslizando um chapéu pelos braços e pelo corpo com fluidez, enquanto a canção se estende languidamente em notas cada vez mais altas (sempre cantadas ao vivo).
É por causa desse resultado que o suor nervoso de Baekhyun convence, no fim das contas. Quando a música começa a fluir, o público reage da forma como ele planejou, e a hora de encantar com os versos mais elásticos de cada canção vai chegando, a empolgação dele fica evidente. Ali é o destino final de sua arte, o momento de ápice de sua paixão, e é claro que ele quer que tudo saia conforme o planejado - o receio de errar é a premissa de quem quer muito acertar, e de quem considera importante acertar. Por mais trivial que seja essa preocupação diante dos problemas do mundo fora daquele microcosmo da arena, eis aqui um músico com medo de não fazer música bem o bastante.
Nada mais natural, de certa forma, e nada mais cativante - desde que você se importe tanto quanto ele, é claro.
Ano: 2024
País: Coreia do Sul
Duração: 90 min
Direção: Kim Ha-min, Oh Yoon-dong
Elenco: Baekhyun