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Crítica

Avatar: Fogo e Cinzas marca retorno mais frenético e dicotômico da franquia

James Cameron encorpa seu subtexto com trama ainda mais política e explícita

Omelete
4 min de leitura
Pedrinho
16.12.2025, às 11H01.

Avatar (2009) nos ensinou duas coisas sobre a natureza humana: a maioria de nós é egoísta, e está disposta às maiores barbáries para garantir lucro máximo para as grandes corporações — mesmo que isso inclua a aniquilação de outra espécie. Já a sua sequência, de 2022, nos leva pelo Caminho da Água em uma trama que, dessa vez, debate a exploração da fauna marinha enquanto evidenciava ainda mais a perversidade em prol da manutenção do capitalismo. Agora, em Avatar: Fogo e Cinzas, esse subtexto retorna mais explícito e polarizado do que nunca, com uma trama frenética e avassaladora que toma conta do primeiro plano.

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Divulgação

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Diferentemente do segundo filme, este não possui salto temporal, tendo início poucos dias após a batalha sob os mares de Pandora. As feridas da família Sully ainda estão abertas, especialmente, as invisíveis aos olhos. O luto pela perda de Neteyam (Jamie Flatters) torna o ar ao redor da família ainda mais insalubre — especialmente para o jovem humano Spider (Jack Champion), que além de não respirar o ar do planeta ainda é rejeitado por Neytiri (Zoe Saldaña), que o odeia por ele ser não somente um humano, mas também filho de Quaritch (Stephen Lang). Nesse ponto inicial, o filme faz a primeira de suas muitas divisões e separa humanos e Na’vi.

E para tentar melhorar esse clima, Jake Sully (Sam Worthington) decide fazer uma viagem em família até as Montanhas Aleluia, onde Spider seria deixado com os cientistas bonzinhos do primeiro filme. Porém, no meio do caminho eles são interceptados por uma horda de Na’vi violentos, com o corpo pintado e carregando flechas flamejantes: a tribo das cinzas, liderada por Varang (Oona Chaplin). Eles então iniciam um ataque feroz e sem precedentes. Assim como o fogo, os inimigos destroem tudo o que veem pela frente e tornam a vida dos Sully um verdadeiro inferno, com batalhas pela sobrevivência do início ao fim. 

Mais uma vez James Cameron se apoia nas dicotomias culturais para traçar uma divisão entre os mocinhos e os vilões. Por mais que tente fugir da visão maniqueísta de bem e mal, o filme sempre tende a destacar elementos que jogam os personagens em um desses extremos. No caso das tribos Na’vi, isso se traduz no ritualístico. Enquanto o que pertence aos grupos aliados é bom e belo, as práticas da tribo da chama são profanas e violentas — por mais que ambas comunidades tenham hábitos extremos. O novo grupo também rejeita Eywa, enquanto os demais a adoram, o que coloca fé e descrença como um novo juízo de valor: se você não crê, você não pode ser bom ou civilizado. 

Esse dualismo também se reflete no núcleo humano, que voltou a ter destaque na franquia graças a colônia construída no segundo filme. Dessa vez, Fogo e Cinzas resgata a dinâmica de ciência versos negacionismo corporativista do longa-metragem de 2009 para, além de fazer um paralelo com a sua realidade contemporânea, mostrar que nem tudo está perdido. Dessa vez, a crítica ambientalista vem alinhada a um reconto jocoso sobre a colonização moderna. Agora, o objetivo não é só os “minerais” ou o “óleo de baleia”, mas todo o planeta, já que a Terra foi consumida pela selvageria das grandes indústrias. 

Mas isso só faz sentido graças ao foco dado ao núcleo jovem, com Spider, Kiri (Sigourney Weaver) e Lo’ak (Britain Dalton) ganhando ainda mais espaço nessa aventura. Cada um com seu próprio caminho trilha os destinos de Pandora e da franquia, que a cada filme se mostra mais próxima de um final não tão feliz. Os arcos individuais do núcleo jovem reforçam a ideia de que uma passagem de bastão pode ser esperada no protagonismo da história — para o bem e para o mal. 

Contudo, nada disso se sustentaria sem o grande trunfo de Avatar: a qualidade gráfica. O primeiro filme, sucesso de bilheteria que revolucionou o 3D, definiu um objetivo para os demais filmes da franquia, que é entregar uma experiência visual como jamais foi vista. Apesar de idolatrar o que artistas conseguem fazer com a tecnologia, o diretor rejeita profundamente o uso de IA e usa o filme para mostrar ao mundo o que mãos humanas podem fazer. O resultado disso são visuais impecáveis e CGIs tão bem feitos que se confundem ao lado de atores reais.

Ainda assim, a atuação do elenco permite que todo esse universo de fantasia faça sentido. Mesmo que seus rostos verdadeiros não apareçam nas câmeras, é possível sentir cada fragmento da emoção que eles colocam nos personagens. O que também é mérito da direção de James Cameron, que conseguiu fazer de um épico alienígena a história mais humana e tocante possível. Os veteranos — Saldaña, Worthington, Weaver e Lang — guiam os mais jovens, que já não sofrem tanto com os anos de diferença entre as suas carreiras e entregam atuações que nos levam a acreditar em cada passo desses personagens.

Mesmo sem grandes reviravoltas e com um desfecho previsível, Avatar: Fogo e Cinzas dá um passo adiante em seu próprio legado, tornando sua jornada cada vez mais definitiva. Misturando guerra e questões climáticas urgentes, o filme segue por um caminho mais dramático e obscuro, traçando um desfecho nada gentil para seus personagens — assim como será com o mundo se as previsões climáticas se concretizarem daqui a alguns anos.

Nota do Crítico

Avatar: Fogo e Cinzas

Avatar: Fire and Ash

2025
197 min
País: EUA
Classificação: 14 anos
Direção: James Cameron
Roteiro: James Cameron, Rick Jaffa, Amanda Silver
Elenco: Kate Winslet, Oona Chaplin, Britain Dalton, Stephen Lang, Sigourney Weaver, Zoe Saldana, Jemaine Clement, Cliff Curtis, Jack Champion, Sam Worthington, Giovanni Ribisi
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