Filmes

Crítica

Arranha-Céu: Coragem Sem Limite

Dwayne Johnson estrela o seu Duro de Matar, com foco na vertigem

12.07.2018, às 15H08.

Sob o risco de saturar o mercado com muito Dwayne Johnson, depois da estreia de Rampage, o filme Arranha-Céu: Coragem Sem Limite oferece um cinema de atrações similar, mas num gênero diferente: sai o longa de destruição e monstros gigantes e entra a claustrofobia nas alturas. A quantidade de piadas com silver tape não deixa enganar: The Rock está estrelando aqui o seu próprio Duro de Matar, no papel de um especialista em segurança que precisa salvar sua família no maior edifício do mundo, incendiado por criminosos.

Divulgação

Esse subgênero que coloca o homem normal em desvantagem contra o mal (paramilitares sempre com tendência ao sadismo) e a física (fogo, tração, gravidade) tem em Johnson uma figura muito mais sobrehumana do que Bruce Willis; a perna mecânica do personagem, marcado por um trauma policial que o acompanha desde o início, foi pensada para dar um ar de fragilidade ao ator, mas The Rock é tão robusto (especialmente na comparação com os chineses de Hong Kong, cenário do filme) que Arranha-Céu nunca deixa de ser uma experiência lúdica descolada da realidade. É como ver um hamster correndo numa gaiola, cercado de crianças, mas com as proporções invertidas: as crianças é que são nanicas.

Ou seja, de "homem normal" Johnson não tem nada, então Arranha-Céu, embora evoque a matriz evidente de Duro de Matar, se diferencia de forma crucial na fisicalidade. Estamos diante de um filme de atrações típico - parte da exposição é gasta para apresentar os desafios dentro do edifício, como portas intransponíveis, salas de espelhos e turbinas de energia - mas tudo isso existe em função do corpo agigantado de The Rock e como esse corpo se move e reage às proporções do prédio e de objetos. Arranha-Céu está mais próximo, nesse sentido, de uma dinâmica de videogame, porque a câmera quase sempre nos coloca numa posição privilegiada (às vezes bem aderente à primeira-pessoa subjetiva) para causar vertigem a partir do contraste entre The Rock e a única mais gigante que ele: o próprio arranha-céu.

Numa sessão 2D, como a que peguei, o trabalho do diretor Rawson Marshall Thurber se dilui um pouco, mas a vertigem funciona bem em sequências como a do guindaste. O filme tende a ganhar no 3D, embora visivelmente não seja arrojado como um A Travessia. Se há um problema aqui é justamente a incapacidade do diretor de manter o espectador preso numa repetição de vertigens com a mesma eficácia, uma vez que isso denota que Arranha-Céu, apesar da variedade de situações, é basicamente um filme de medo de altura e esse recurso se esgota depois um tempo.

De qualquer forma, há uma narrativa de game a ser completa aqui, com dificuldades crescentes, e as cenas são claramente organizadas como num filme de Paul W.S. Anderson em que as tomadas aéreas servem menos para situar o espectador num drama do que para atualizá-lo do tabuleiro. As situações seguem um escalonamento seguindo o fogo, andar por andar, com desafios propostos ao protagonistas como missões até o topo do prédio. Arranha-Céu funciona na base dessa organização, e a dramaturgia é mínima; os foreshadowings são tão triviais que chegam a ser autoparódicos, do reboot do celular à porta de titânio.

É curioso ver como o cinema de ação migra, hoje em dia, para essa dinâmica de gameplay em detrimento de regras que pareciam inabaláveis, como o escalonamento de vilões e duelos, que vale mais ou menos desde os tempos de Bruce Lee, passa por 300, e até hoje é visto no cinema de ação asiático ou em produções de orçamento menor, como os filmes estrelados por Scott Adkins. Arranha-Céu parece prescindir de cenas de luta assim; depois de fazer com The Rock uma cena de luta muito boa num apartamento no começo do filme, os desafios se tornam mais como os de um game de exploração e equilíbrio do que propriamente como um The Raid.

Descontados os momentos mais fracos, é uma fórmula que sai bem feita em Arranha-Céu - talvez mais pelo carisma de Johnson, a maior dentre as atrações aqui.

Nota do Crítico
Bom
Arranha-Céu: Coragem Sem Limite
Skyscraper
Arranha-Céu: Coragem Sem Limite
Skyscraper

Ano: 2018

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 102 min

Direção: Rawson Marshall Thurber

Roteiro: Rawson Marshall Thurber

Elenco: Noah Taylor, Pablo Schreiber, Neve Campbell, Dwayne Johnson

Onde assistir:
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