Filmes

Crítica

Antonia | Crítica

Tata Amaral de volta à periferia

24.10.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H20
Antonia
Brasil, 2006
Drama/Musical - 90 min

Direção: Tata Amaral
Roteiro: Tata Amaral e Roberto Moreira


Elenco: Chico Andrade, Barão, Cindy, Nathalye Cris, Ezequiel da Silva, Thobias da Vai-Vai, Sandra de Sá, Hadji, Kamau, Negra Li, Giulio Lopes, Fernando Macário, Leilah Moreno, Quelynah, Negro Rico, Thaíde.

Não é segredo nenhum que a cineasta paulistana Tata Amaral tem predileção em filmar as periferias de sua cidade; mais ainda, os habitantes dessa periferia; e mais ainda, as mulheres que tentam sobreviver nesse mundo à parte, mais cruel - porém, rico em suas individualidades.

Em seu primeiro longa, Um Céu de Estrelas, ela até que não deslocou tanto seu enfoque do centro geográfico da cidade ao localizar a trama no bairro da Moóca (quase centro). Mas os assuntos: falta de oportunidades e sonho feminino de escapada de uma vida difícil - dentro de uma simplicidade espacial que remetia, em similaridade, aos rincões mais pobres e afastados - estavam presentes. Em seu segundo longa, o nível de vida dos protagonistas era um pouco superior, mas o comportamento dos jovens e a exploração da mãe - função mais feminina (inerente) a ser exercida pela mulher -, também remetiam seus personagens ao distanciamento aprazível de um modo de vida mais comum e confortável.

Tata estudou por muito tempo o assunto a ser retratado nessa sua nova realização, Antonia, sobre quatro jovens mulheres negras batalham pelo sonho de viver apenas de sua música. Manteve uma característica de naturalidade interpretativa que vem cultivando através dos anos, como um processo muito particular de compreender o cinema e de imaginá-lo transmitido aos espectadores. Nesse caso, mais especificamente ainda, o risco assumido por tal empreitada de teor "santificado" se viu multiplicado pela escolha da trupe que iria trabalhar no filme: cantores, sambistas, trabalhadores de outras funções, e muito poucos atores de verdade. Risco assumido, pau na máquina. Os resultados? Um muito de sinceridade, que empresta ganho ao filme, e tropeções naturais de quem não é do ramo. Tais tropeções acontecem bastante durante o desenvolver da trama, mas, curiosamente, ficam mais evidentes a partir da metade do filme - como se por alguns momentos, no início, a diretora tivesse empreendido e fixado mais sua presença, numa exigência mais próxima de rigor interpretativo por parte dos não-atores, e a partir de um certo instante tenha largado um pouco a mão, ou por cansaço, ou por entender que novos e mais naturalistas rumos cairiam bem no desenvolver da obra.

Com um esplêndido trabalho de câmera e fotografia, o filme transita pelos caminhos tortuosos e íngremes das periferias da Zona Norte, comprovando para alguns cineastas que utilizar o foco bem próximo dos protagonistas, movimentar velozmente a câmera em busca de ângulos inéditos e caminhar por ladeira esburacadas, não significa descuido no tratamento final e resultados que podem virar o estômago de tanto chacoalhar e "perder o centro". Se era para contar com sinceridade a vida das jovens que imaginam sair da pobreza e do isolamento social através do canto e de capacidades próprias, o filme cumpriu bem seu papel. Tem momentos belos, tocantes, sinceros e fortes. Não dá para negar a atração que exerce a pequena menina em sua interpretação genialmente natural; não dá para negar, também, o belo desempenho do DJ Thaíde, com suas observações "metafóricas" e sonhadoras. Só que a competente e autoral, Tata, força a barra em alguns momentos que exigiriam mais sinceridade, para a obtenção de mais credibilidade: a prisão absurda e fora dos padrões do que é norma no Brasil de um dos personagens; uma bela canção, cantada em inglês perfeito, sem ensaio nem nada mas com cara de que anti-naturalismo extremo - em contraste à proposta da diretora -, ou o momento em que as quatro se apresentam para presidiárias, numa liberdade poética previsível e desnecessária.

Não é o melhor filme de Tata Amaral. Mas contém bastante de sua essência, belos momentos e não deve ser desprezado. É o típico trabalho que cresce em nossas cabeças com o passar das horas.

Cid Nader é editor do site cinequanon.art.br

Nota do Crítico
Bom
Antônia - O Filme
Antônia - O Filme
Antônia - O Filme
Antônia - O Filme

Ano: 2006

País: Brasil

Classificação: 12 anos

Duração: 90 min

Direção: Tata Amaral

Roteiro: Tata Amaral

Elenco: Negra Li, Leilah Moreno, Cindy Mendes, Quelynah

Onde assistir:
Oferecido por

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.