A perspectiva de Amrum é imediatamente fascinante. Afinal de contas, não há muitos filmes sobre a juventudade nazista Jungfölk que se firmam tão fortemente nos pés de um protagonista mírim que acredita tão fielmente nos ideais pregados por Adolf Hilter. É como se Fatih Akin tivesse assistido a Jojo Rabbit, rejeitado o sentimentalismo e humor estranho, e decidido encarar o desafio, narrando um conto de amadurecimento que usa pilares desse gênero para questionar uma visão de mundo nefasta.
Para ser justo com o jovem Nanning (Jasper Billerbeck), seu pai é uma figura importante no partido alemão, e sua mãe parece crer nessa ideologia demoníaca tanto quanto o próprio Führer. Em outras palavras, não havia como ele crescer de forma diferente. Estamos, porém, no fim da guerra. Os nazistas até tentam negar – ameaçando punir quem, como a fazendeira Tessa (Diane Krüger), espalha por aí que os soviéticos estão a 50km de Berlim – e manter a fachada, mas a notícia já viajou até a ilha de Amrum, de onde a família de Nanning partiu por tempo o suficiente para hoje serem considerados um povo da terra, e não do mar.
Queira ou não a SS, a situação fica insustentável depois que todo rádio no país noticia a morte de seu líder, vendendo o suicídio de Hitler como um ato glorioso de resistência mas deixando aqueles que compravam seu discurso desolados. O choque é tão grande que Hille (Laura Tonke) entra em trabalho de parto, dando a Nanning mais um irmão mais novo. Desesperada com o mundo em que seus filhos irão crescer, a mãe se recusa a comer tudo que não seja pão branco com manteiga e mel, três coisas que, devido a guerra, praticamente desapareceram da ilha. Como bom soldado, Nanning decide resolver a questão.
Amrum se desenrola como um filme de pequenas jornadas onde o garoto precisa dar um jeito de adquirir os ingredientes necessários para dar a sua mãe o prato dos sonhos. No processo, Nanning interaje com pescadores, padeiros e habitantes locais de maneira mais franca. Certos de que os nazistas estão prestes a desistir e potencializados pela chegada de refugiados polacos, estes alemães só não falam mais abertamente das monstruosidades nas quais o jovem acredita por medo dele ser um X9.
De bela fotografia e ambientação, contudo, o filme sofre para se equilibrar nessa corda-bamba moral. Assumir a perspectiva de Nanning gera um quê inevitável de empatia com o garoto, algo que Akin perpetua com um epílogo bizarramente sentimental e graças à atuação madura de Billerbeck. Por mais que as atrocidades da época não sejam jogadas debaixo do tapete, Amrum parece mais interessado, ou é mais eficaz, em criar um recorte da vida cotidiana no fim da Segunda Guerra Mundial do que em explorar a carga temática complicada que sua premissa traz com si.
Por um lado, é compreensível que Akin queira evitar criar uma consciência para o garoto (novamente, isto não é Jojo Rabbit), mas isso também confere a Amrum problemas inevitáveis, e para os quais o cineasta não tem respostas mais interessantes do que cenas em que a mãe do garoto é publicamente humilhada. São momentos de prazer vingativo e instantâneo, mas que dramaticamente não aprofundam as discussões de Amrum. Como a passagem entre a ilha e o resto do país, tudo é raso.
Amrum
Amrum
Ano: 2025
País: Alemanha
Duração: 93 min
Direção: Fatih Akin
Elenco: Diane Kruger , Laura Tonke , Jasper Billerbeck
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