Amigo é Pra Essas Coisas | Crítica
Amigo é pra essas coisas
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Para se contar uma boa história não é preciso milhões de dólares, não é preciso astros e estrelas de ponta e também não tem que vir enlatado da terra do Tio Sam. Apesar da frase soar como um grande clichê, esse ainda é o principal discurso de quem tenta mostrar o valor de um filme de baixo orçamento, que não gasta com divulgação e muito menos com distribuição de cópias por todo os cantos do planeta.
Amigo é pra essas coisas não é exatamente uma obra-prima do cinema, mas convence o público com uma linguagem simples e um humor sutil. Aliás, o filme não tem grandes pretensões. Uma delas, talvez, seja relatar um dos temas de grande repercussão na França contemporânea: o preconceito em relação aos imigrantes e seus filhos. Porém, como o longa trata do assunto por meio da história de um jovem, a narrativa apresenta uma energia envolvente e divertida em vez do tom dramático carregado, peculiar ao cinema francês.
Na trama, Victor Zimbietrovski é um garoto polonês que vive na França. Após se envolver em um acidente de trânsito, Zim vai parar na delegacia e é intimidado a encontrar um emprego em 10 dias, com carteira assinada, caso não queira ir para a prisão. Sem experiência no mercado de trabalho, sem estudos completos, cidadão de baixa renda e filho de imigrantes com sobrenome judeu, Zim corre contra o tempo para cumprir o que lhe foi determinado pela justiça. Mas quando a situação parece estar prestes a se ajeitar, novos problemas surgem, e todos ao mesmo tempo. A cada solução, um novo obstáculo. Para ajudá-lo lá estão seus amigos (suburbanos e desempregados, assim como Zim): Cheb, filho de imigrantes árabes; Arthure, filho de africanos; e Safia, imigrante do Oriente Médio. E é esse laço de amizade multicultural - apresentado como pano de fundo às difíceis situações que passam jovens de etnias diferentes e status social inferior, não só na França, mas em grande parte da Europa - o ponto que realmente alavanca o filme. Méritos para o veterano diretor e roteirista Pierre Jolivete que, além de conseguir transmitir um conteúdo áspero com sutilezas e preservando o bom-humor, ainda acertou na escolha dos atores. Desconhecidos do público é verdade, mas de carisma e simpatia fundamentais para a atmosfera sincera e realista do longa.
Numa suposta história da arte cinematográfica, Amigo é pra essas coisas faria o papel do filme suburbano, com pouco dinheiro e vítima de algum preconceito por parte dos admirados do cinemão mais popular. Mas que, assim como Zim, também merece uma chance.


