Após os sucessos de Coração Valente (1995), A Paixão de Cristo (2007) e Até o Último Homem (2016), é normal ficar empolgado por um filme dirigido pelo veterano Mel Gibson, ainda mais com Mark Wahlberg no elenco. A dupla possui currículos aclamados e trabalhos que passam confiança a qualquer um. Entretanto, isso não se confirma em Ameaça no Ar, que reúne novamente a dupla de Prova de Coragem: A História do Padre Stu e Pai em Dose Dupla 2, vai contra todas as expectativas.
No longa, Wahlberg interpreta um piloto que leva um criminoso, Winston (Topher Grace), para ser julgado. Toda a divulgação do filme, inclusive os pôsteres, levam a crer que o astro teria protagonismo na história, mas o roteiro segue por outro caminho. A trama foca na policial recém-reabilitada Madelyn Harris (Michelle Dockery) e a relação com que ela constrói com o criminoso, deixando Wahlberg como uma peça de decoração cara e muitas vezes inutilizada.
Basicamente, o personagem de Wahlberg é um criminoso cruel, implacável, que sabe lutar com facas, atirar e pilotar um avião, mas é facilmente aplacado por armas de choque e extintores de incêndio. Sem nome nem qualquer motivação forte o bastante, ele está decidido a abusar, violentar e vilipendiar a policial e o prisioneiro. Até mesmo derrubar com ele mesmo dentro é cogitado pelo vilão. Ele é um cara mau.
Para contrabalancear toda essa vilania sem explicação, a personagem de Dockery é a personificação bondade. Correta, protocolar e extremamente obediente, nada poderia abalar sua integridade, nem mesmo o trauma de ter perdido sua última prisioneira, assassinada violentamente, anos antes dos eventos do filme. Por isso, ela precisa fazer de tudo para proteger Winston.
Não há muito mais o que dizer sobre os personagens, afinal, o filme também não diz. Entre um erro de continuidade e outro, o espectador recebe a missão de interpretar alguns elementos, enquanto outros ele precisa criar na própria imaginação. Esse fator talvez não seria ruim se o terceiro ato do filme não fosse bombardeado por novos personagens teoricamente importantes — mas que nem aparecem na tela.
Quando o filme parece encontrar seu ritmo e razão de existir, as coisas voltam a perder o sentido. Com a protagonista tendo que pilotar um avião pela primeira vez enquanto luta contra um psicopata e mantém um refém vivo, a trama decide dar um passo maior do que a própria perna. A trama mafiosa inicial é substituída por uma grande conspiração policial, envolvendo desde a chefe de Harris até o diretor-geral. Nesse ponto, o filme parece contar outra história.
Para dar sentido a essa sopa de letrinhas, Jared Rosenberg, que faz sua estreia como roteirista, inclui diversas conveniências ao longo do filme. Frases soltas durante as poucas horas de convivência entre o trio começam a explicar teorias que passam pela cabeça da protagonista pela primeira vez e de uma agente confusa que esqueceu que o próprio celular possuía sinal de satélite, ela se torna uma investigadora digna de CSI.
Apesar de todos esses fatores, a direção de Mel Gibson mantém um tom de suspense e a qualidade do filme. Graças a ele, a produção encontra seus momentos de tensão e ação de tirar o fôlego. As imagens aéreas, bem como as lutas entre a policial e o vilão de Wahlberg — que escapa todas as vezes que é contido, têm seu mérito e promovem um entretenimento de qualidade.
Simples e cheio de tropeços, Ameaça no Ar definitivamente não é um filme para quem busca qualidade, mas pode entreter quem aceita seus defeitos. Com personagens mal desenvolvidos e uma trama rasa, o filme dispensa grandes conclusões e foca suas energias em criar pretextos para uma sequência.
Ano: 2025
País: EUA
Duração: 91 min
Direção: Mel Gibson
Elenco: Mark Wahlberg