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Filmes
Crítica

À Paisana vive a intensidade, pelo bem e pelo mal

Carmen Emmi não poupa riscos em sua estreia como diretor

Omelete
3 min de leitura
31.10.2025, às 18H00.

A estreia de um diretor é, por vezes, muito fácil de identificar: a experimentação com vários estilos, formatos, ângulos e tons em busca de criar sua própria identidade pode ser explanada na tela – e no meio desse caos, algo único surge. Essa é a “não receita” de À Paisana, primeiro longa dirigido e roteirizado por Carmen Emmi, que atira para todos os lados em uma história que poderia ser mais delicada.

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Os primeiros minutos já evidenciam a tônica que os 95 minutos de filme irão seguir. Entre mudanças de proporção de imagem, trocas de lente e luzes estouradas, somos apresentados a Lucas (Tom Blyth), policial encarregado de encontrar e prender homossexuais em um shopping dos anos 90. O método usado pelo protagonista entrega rapidamente a contradição prestes a acontecer: sem dizer uma palavra, ele seduz seus alvos até um box de banheiro e, uma vez que não haja dúvidas sobre sua sexualidade, a voz de prisão é dada.

Apesar da violência intrínseca, a cena é retratada com a intimidade de ambientes apertados e enquadramentos fechados, que reforçam o interesse de ambas partes naquele momento, mas só uma delas resiste à tentação.

Plainclothes À Paisana
Divulgação/Page 1 Entertainment

Enquanto aprendemos mais sobre a profissão de Lucas, o roteiro dá curtos saltos temporais para a festa de Ano Novo de sua família. Transtornado após perder uma carta, ele ainda tem de lidar com os dramas básicos que muitos vivem – ou já assistiram de alguma forma. Um tio problemático, uma mãe traumatizada, e a urgência em manter as aparências frente a parentes que você nem lembra quem são.

A alternância entre esses momentos é o caminho usado por Emmi para potencializar seu lado cientista. Em À Paisana, é raro que a cena permaneça a mesma por mais do que alguns segundos. Tudo é dinâmico, ofuscante, intenso e barulhento como a própria mente do policial, que preenche a tela de forma sinestésica com todas as cores e texturas da ansiedade, sentida por ele e pelo diretor, num processo de autoconhecimento.

A calmaria num filme de turbulências vem nas mãos de Andrew (Russell Tovey), que inicialmente aparece como alvo de Lucas, e Emily (Amy Forsyth), namorada com quem ele acabou de terminar. Quando qualquer um deles está em cena, o universo se silencia e a câmera descansa.

A dualidade simples, porém eficaz, dos dramas se opondo ao romance seria suficiente para o roteiro, que tropeça ao tentar se exaltar tanto quanto a estética do longa. Buscando um encerramento intenso, Emmi abusa de alguns atalhos para chocar o público, e ainda que todos eles sejam implacáveis ao arrancar reações, o impacto se torna mais difuso.

À Paisana não precisava de viradas de roteiro em sequência para deixar sua marca. Ainda que os testes pessoais realizados por um diretor estreante possam ser excessivos, eles não deixam de falar bastante por si só. Por outro lado, esses movimentos podem ser vistos como outra manifestação da bagunça que é proposta desde o início – mas dessa vez, no texto ao invés da imagem.

É impossível imaginar que todos esses testes serão digeridos de formas similares por um público amplo. A intensidade visual pode funcionar melhor para alguns, enquanto outros encontram satisfação nos plot twists. Claro, existe a chance do caos não funcionar em nenhum dos âmbitos e deixar um gosto amargo para alguns espectadores. Em qualquer uma dessas situações, entretanto, é impossível relaxar enquanto se assiste ao filme.

À Paisana foi exibido na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Ainda não há previsão de estreia no circuito comercial brasileiro.

Nota do Crítico

À Paisana

Plainclothes

2025
95 min
País: Estados Unidos
Direção: Carmen Emmi
Roteiro: Carmen Emmi
Elenco: Tom Blyth, Russell Tovey
Onde assistir:
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