A Grande Inundação faz boa mistura de drama e ficção científica na Netflix
Filme sul-coreano se embola nas resoluções e arrasta a trama, mas entrega um saldo positivo
Uma das grandes virtudes da Netflix é o fácil acesso a produções não-hollywoodianas que dificilmente chegariam a um público doutrinado pelo cinema estadunidense. Em que se pese a qualidade delas, é admirável o quão simples é conhecer produções indianas, turcas, chinesas, norueguesas, brasileiras, espanholas e coreanas - estas últimas, aliás, são especiais não só pelo hype que as cercam, mas por há anos se tornarem um grande exemplo de qualidade e pela habilidade de misturar gêneros sem deixar de falar sobre o aspecto social e cultural da própria sociedade.
A Grande Inundação, nova produção da gigante do streaming, é mais uma a chegar nesta toada, dirigida por Kim Byung-woo, o filme é estrelado por Kim Da-mi e conta a história de uma mãe e um filho que se vêem presos em um prédio que está no meio de um dilúvio. Um asteróide se choca com a Terra e restam poucas horas para se salvar da inundação que toma conta de Seul, mas aos poucos o roteiro revela que An-na, a protagonista, é também a chave para o futuro da humanidade, já que ela detém o conhecimento para perpetuar a espécie pós-apocalipse.
Sem entrar em spoilers, que definitivamente fazem parte da experiência de assistir a este filme, é de se admirar como A Grande Inundação não poupa tempo algum para partir para o desastre que desenha toda a trama. A mistura de gêneros aqui vai de ação, drama e ficção científica sem sofrer em nenhum momento, pois tudo que se apresenta é moldado a partir da relação entre mãe e filho - e mesmo que as resoluções acabem sendo muito mais arrastadas do que o necessário, a âncora emocional nunca se afasta disso.
No meio das revelações, Kim consegue também usar muito as limitações do cenário e do orçamento para moldar um ambiente que se torna crível e, mais importante, recheado de simbolismos sobre as camadas da sociedade, os privilégios e, por fim, os sacrifícios que cada um têm que realizar para chegar onde precisa. Por mais que não seja sutil e elegante do meio pra frente, insistindo em explicações repetitivas e às vezes exaustivas, A Grande Inundação carrega o espectador até o fim pela fidelidade em falar sobre a transformação de uma mulher que tenta se entender em um mundo que entende maternidade de uma só maneira. Na trágica aventura de An-na e Ja-in, tanto eles quanto o espectador chegam ao fim entendendo que há diversas possibilidades de se descobrir como mãe, e a única regra existente é a conexão genuína com quem você se relaciona.