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Não basta reformar

Omelete Recomenda

Os amantes do cinema de rua comemoraram esta semana a reabertura do Cine Belas Artes aqui em São Paulo. Não tenho nada contra os shoppings, mas, confesso que, nos últimos anos, troco tudo por um programinha a céu aberto.

(vai ver, é a idade)

Não participei da tal efervescência intelectual dos anos 70 e 80 de que os jornais falaram tanto ao noticiar a reforma do prédio (a tal idade não é tanta assim), mas também fiquei feliz com a reabertura. Fui uma das pessoas que freqüentou o Belas Artes quando ainda tinha três salas. Também fui uma das que, um dia, viu a fumaça estranha sair do prédio quando ia para a faculdade.

O ponto quase em frente ao cinema era um dos momentos de virada no caminho do "busão" Largo da Concórdia até a USP. A gente virava para um lado e cochilava logo que saía do Largo. Abria os olhos na frente do Hilton, na Av. Ipiranga (um pouco para lá da esquina da música) e virava para o outro. Invariavelmente acordava mais uma vez em frente ao cinema, pouco antes de descer a Rebouças e checar o termômetro em frente ao Hospital das Clínicas. (10º ali significavam 8º na USP – era essencial saber quanto frio a gente ia enfrentar lá embaixo). Foi numa dessas que virei e testemunhei o incêndio.

Também fui ao Belas Artes quando ele passou a ter seis salas, algumas minúsculas na opinião de alguém como eu, que acha o monstruoso IMAX um cineminha batuta e era fã do Paramount antes de ele se tornar o Teatro Abril. Pode dizer o que quiser do seu home theater, mas filme foi feito para ser visto no cinema. Essa, aliás, era outra vantagem das salas de rua. Eles costumavam exibir películas antigas. Foi assim que assisti às fitas do Elvis muito antes de ele virar carne de vaca da Sessão da Tarde. Foi também na tela grande que vi Ben Hur e Spartacus (eu disse que a idade não era tanta). Parte do cardápio da reinauguração do Belas Artes, aliás, é uma chance de ver Quanto mais quente melhor, com Tony Curtis como se deve.

O problema é que reformar não resolve.

Ninguém sai de casa para passar medo, e as pessoas estão cada vez mais apavoradas. Entre duas opções, a mais segura sempre ganha. Construído em épocas mais civilizadas, quando era normal ir ao teatro e ao cinema de ônibus, o Belas Artes nunca teve estacionamento. A melhor opção era um local bem próximo, na mesma calçada, que fechava logo no final da sessão. E era logo mesmo! Uma de minhas visitas em companhia de amigas terminou com o funcionário do estabelecimento chiando um bocado. Pra ele, tínhamos demorado demais. Que nada. Uma das meninas tinha ido ao banheiro após o filme. Só isso.

Quando outro cinema de rua, o cine Comodoro, ainda respirava, meu irmão e mais dois casais estrelaram vinte minutos de berros e batidas na porta do estacionamento em frente, em plena São João, a uma da manhã, em um caso parecido. Não preciso dizer que nunca mais voltaram ao lugar onde enfrentei duas horas de fila na calçada para ver Grease.

Outro ponto de honra em São Paulo é que sair significa sair para comer, mesmo quando o objetivo da saída é ir ao cinema. A melhor opção para o Belas Artes sempre foi atravessar a rua e assassinar a dieta num dos restaurantes de frente. E, a menos que se quisesse conhecer a emocionante vida dos pinos de boliche, era melhor atravessar a avenida pela passagem subterrânea da Consolação.

Em honra à reinauguração, a Prefeitura está reformando a passagem.

A última vez em que estive lá, a bem da verdade, o local estava iluminado e havia um guarda no meio. O problema é que não havia ninguém cuidando das escadas de acesso. Nem das calçadas. Assim, o caminho virava verdadeira corrida de obstáculos. Pode ser muito legal nas olimpíadas, mas, num sábado de salto alto, eu dispenso. Na verdade, dispenso em qualquer dia da semana.

Resumindo, não adianta mudar tudo, instalar um equipamento supimpa e colocar um guapo segurança na porta. O teleporte ainda não foi inventado e, se as pessoas não se sentirem tranqüilas para freqüentar o lugar, todo o esforço será em vão.

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