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Bolt - Supercão

Animação em CGI da Disney é o inequívoco primeiro fruto da Era John Lasseter no estúdio

31.12.2008, às 12H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H43

Há dois anos, a animação da Disney Bolt - Supercão ainda se chamava American Dog e estava sob a responsabilidade do criador de Lilo & Stitch, Chris Saunders. Quando a Disney oficializou a compra da Pixar e John Lasseter acumulou a chefia dos departamentos de animação dos dois estúdios, depois de alguns meses o projeto foi remodelado. Além da troca de nome, Saunders em dezembro de 2006 cedeu lugar a novos roteiristas e diretores.

A premissa permanece a mesma: um cachorro, astro da TV, deixa a segurança do estúdio em Hollywood para cair na estrada. Não saberemos - além dos primeiros esboços - como seria o filme nas mãos de Saunders. Já sob a supervisão de Lasseter, Bolt ganhou características do trabalho do diretor de Toy Story e Carros. O filme dos estreantes Byron Howard e Chris Williams é, ainda que não tenha sua assinatura, um filme de John Lasseter.

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O que lhe atraiu na história, conta o midas da Pixar em entrevistas, é um elemento central também em Toy Story: a relação de apego de uma criança com seu brinquedo - neste caso, seu bicho de estimação. Bolt foi reformulado para reforçar esse ponto. O super-cão do título, dentro do seu programa de TV, salta helicópteros, solta latidos supersônicos e raios dos olhos, tudo para proteger sua dona, Penny, das garras do vilanesco Dr. Calico. Quando é empacotado acidentalmente para Nova York, Bolt faz tudo para voltar para Los Angeles justamente porque imagina Penny em perigo.

Acontece que, fora de Hollywood, Bolt não passa de um pequeno pastor branco. O filme então se torna uma história de auto-conhecimento com superação - Bolt aprende a duras quedas que seus poderes são obra de ficção, ao mesmo tempo em que se descobre forte o suficiente para atravessar o país e tentar reencontrar Penny.

A oportunidade de cruzar os Estados Unidos é, evidentemente, como em todo filme de estrada hollywoodiano, uma chance também de ter contato com a boa América profunda, aquela das tortas de maçãs e dos campos de trigo. Aí o filme lembra mais Carros: temos um protagonista corrompido pelo showbiz que se purifica só depois de provar o vento do meio-oeste batendo em sua cara.

Não por acaso os dois filmes dividem um mesmo roteirista, Dan Fogelman, mas Bolt é até mais radical do que Carros nesse desprezo pela indústria do entretenimento - tanto que começa emulando em forma de piada os clichês dos filmes de ação (câmera lenta, replay de explosão) e termina ridicularizando os alienígenas na TV ("Isso não é real", diz Penny na hora). Mas o que é real e o que é encenação? Metalinguística, a animação questiona a validade do faz-de-conta até mesmo na hora de Bolt "fazer cara de cãozinho" pra pedir comida.

Da Disney, Bolt aproveita a tradição de fazer boa comédia com antropomorfismos (o hamster nerd diverte e os pombos são impagáveis). De fazer boa fantasia, enfim. Mas é essa obsessão de Lasseter por uma verdade algo nostálgica e regressiva nas coisas simples da "vida real" que marca o filme. O caso é que há autenticidade, também, naquilo que se fabrica - e eu particularmente prefiro o encantamento do diretor que roda a série de TV de Bolt em um único plano-sequência do que a suposta verdade do anonimato isolado na casinha do interior.

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