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Crítica

Grandes Olhos | Crítica

Tim Burton abandona maneirismos e entrega um dos seus melhores trabalhos recentes

29.01.2015, às 10H36.

A expressão “Atrás de um grande homem sempre existe uma grande mulher” é uma ofensa disfarçada de elogio. Um lembrete de que, por séculos, a maioria das mulheres viu sua capacidade limitada a uma posição de apoio. Eram filhas, esposas e mães, mas nunca elas mesmas.

A história de Margaret Keane, contada por Tim Burton em Grandes Olhos, é um exemplo extremo disso. Artista talentosa, a glória do seu trabalho foi para o marido. Walter Keane assumiu a autoria dos seus retratos, estrelados quase sempre por crianças com grandes e tristes olhos, e transformou a arte em um império, sendo um dos primeiros a comercializar pinturas como produtos licenciados.

Colecionador da obra de Keane, Burton mostra intimidade com a sua trajetória. O colunista de fofocas Dick Nolan (Danny Huston) é o narrador no roteiro de Scott Alexander e Larry Karaszewski, mas o verdadeiro condutor é a capacidade visual do diretor. Sem excessos, compõe como pinturas a desolação de Margaret ao deixar o primeiro marido, sua chegada na ensolarada San Francisco e seu isolamento durante a farsa de Walter. As cenas misturam referências a Edward Hopper e Andy Warhol em uma paleta de cores que é ao mesmo tempo pálida e vibrante.

Amy Adams é outro ponto forte do longa. Sua presença frágil, mas firme, mostra o misto de determinação e insegurança da sua personagem. Daí Margaret ter concordado em ficar às sombras por tanto tempo. A mentira e a falta de reconhecimento a consumiam, mas o dinheiro do império Keane garantia o conforto da filha e ela sabia que seus “grandes olhos” não teriam saído das feiras da Califórnia sem a capacidade de vendas do marido.

O charme faz o mentiroso, porém, e é isso o que falta na atuação de Christoph Waltz. Há um exagero constante na sua encarnação de Walter Keane, como se o ator estivesse emulando Gene Kelly em Sinfonia em Paris (1951) para retratar as aspirações artísticas e a elegância do seu personagem. O resultado, no entanto, é caricato demais. Seu Walter, que sonhava em ser reconhecido por seu talento, mas era incapaz de criar qualquer coisa, se torna facilmente patético e não vilanesco no seu caminho para a glória às custas de Margaret. Essa faceta constrangedora, contudo, funciona bem nas suas interações com os críticos de arte (em ótimas participações de Jason Schwartzman e Terence Stamp). O nome Keane podia ser um sucesso de vendas e estampar cartões-postais e mesas de centro, mas não podia ser kitsch.

Burton, por sua vez, consegue resgatar sua qualidade como artista, mantendo sua assinatura visual e temática, mas com maturidade. Sua direção é pontual e delicada, transformando Grandes Olhos em um dos seus melhores trabalhos recentes.

Grandes Olhos | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ótimo
Grandes Olhos
Big Eyes
Grandes Olhos
Big Eyes

Ano: 2014

País: EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 0 min

Direção: Tim Burton

Roteiro: Scott Alexander, Larry Karaszewski

Elenco: Amy Adams, Christoph Waltz, Jason Schwartzman, Krysten Ritter, Danny Huston, Terence Stamp

Onde assistir:
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