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Amante Por Um Dia | "A política da posse rege as relações a dois", diz Philippe Garrel

Mítico realizador francês fala sobre ciúme e psicanálise em seu novo e elogiado filme

20.03.2018, às 14H04.

Lançado na última quinta-feira (15) no Brasil, cercado de críticas positivas e embalado em elogios conquistados durante sua passagem pela Quinzena dos Realizadores de Cannes, Amante Por um Dia é um ensaio poético sem cores (de um preto e branco cheio de textura) sobre uma das obsessões da vida e da arte do cineasta francês Philippe Garrel (A Fronteira da Alvorada): o ciúme.

Sua trama acompanha o desafio de um homem (Eric Caravaca) para domar o ciúme de sua filha (Esther Garrel) por sua nova namorada (Louise Chevillotte). Ambas as personagens têm 23 anos e demandam dele exclusividade. Sua potência plástica distinta da média do cinema francófono que pinta por aqui vem de sua adesão quase religiosa ao uso de película (35 mm) à moda antiga, sem se render à facilidade da tecnologia digital.

"Não vejo problema em usar o digital como ferramenta de aula com meus alunos ou em curtas-metragens, mas sou fiel ao efeito estético da película no cinema, assim como tenho uma devoção pelo que o preto e branco gera como resultado na tela. A película dá a um filme dimensões sensoriais que o digital mimetiza com perdas. E o preto e branco me permite construir linguagem e tratar um assunto universal como o amo com singularidade, repaginando nossas rotinas", disse Philippe Garrel.

Pai do galã Louis Garrel (O Formidável), Garrel é uma cria tardia do movimento chamado Nouvelle Vague (corrente de diretores que entre 1958 e 1970 redesenhou a forma de filmar na França e no mundo, engajando o discurso dos diretores a questões políticas e comportamentais urgentes, buscando renovar conceitos narrativos), revelado com o curta-metragem Les Enfants Désaccordés, em 1964. A partir dos anos 2000, ele virou um dos cineastas mais prolíficos de sua pátria, sempre ocupado com dilemas românticos ou geracionais que aborda sob um viés psicanalítico. L'Amant d'un Jour, título original de seu novo longa, é um de seus trabalhos mais respeitados pelo público e pela crítica.

"Existem iluminações sobre os problemas da vida que só Freud é capaz de nos dar e é por isso que eu nunca me afasto dele. Ele me ensina a tratar com mais respeito e mais profundidade pequenos gestos que bagunçam as relações a dois, como o ciúme. Freud me ajuda a esmiuçar a política que rege as relações afetivas: a política da posse. Meu cinema tenta devassar esse poder que carrega algo de burguês", diz o cineasta, saudoso do turbilhão ideológico que devassou o mundo em 1968, quando ele preparava o longa Anémone. "Havia uma liberdade de criação naquele momento da História que faz falta entre nós. Mas temos hoje jovens inquietos que podem recuperar esse sentimento de um cinema livre. Livre da política de resultados da bilheteria, livre de ditames de mercado, da ditadura do gosto".

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