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A Repartição do Tempo | Como dois funcionários públicos fizeram um filme de Sessão da Tarde durante as férias

Filme de Santiago Dellape está em cartaz nos cinemas brasileiros

02.02.2018, às 17H24.

Parte do cotidiano do brasileiro é lidar com burocracia de todo tipo. O diretor Santiago Dellape sabe muito bem disso, e imortalizou as dores de cabeça cotidianas na comédia sci-fi A Repartição do Tempo, recém chegada aos cinemas. Como o cineasta encarnou um funcionário de repartição pública de Brasília para criar entretenimento? Simples, sendo um.

“Sou funcionário público na Esplanada dos Ministérios há 8 anos”, explica Dellape direto de Brasília, entre uma papelada e outra. “Com esse tempo de casa já pude desfrutar da minha licença-prêmio que foi justamente o período em que aproveitei para filmar A Repartição do Tempo. O filme está repleto dessas metalinguagens e paralelos com a vida real. Davi Mattos, com quem escrevi o roteiro, também era servidor até pouco tempo atrás, então temos aí uma pista de porquê nosso protagonista é um funcionário público dividido entre a paixão e o ofício, batalhando para encontrar sua própria voz como artista.”

A Licença-Prêmio à qual se refere - “hoje chamada licença-capacitação” - consiste basicamente de até três meses de férias remuneradas para servidores públicos com cinco anos em atividade. Não estar familiarizado com o termo não é algo fora do comum: “O título original era "Licença Prêmio", mas mudamos depois de um Teste de Audiência em São Paulo onde a cultura do funcionalismo não é tão forte, depois de descobrir que a maior parte do público não sabia o que era licença-prêmio”, diz o cineasta.

Apesar de não ser diretor em tempo integral, Dellape não é nenhum desconhecido quando se trata de cinema: sua carreira consiste em escrever, produzir e dirigir curta-metragens, muitos deles premiados em festivais. “Foi fundamental eu ter explorado a linguagem cinematográfica com os sete curtas que dirigi antes do longa, pois se eu tivesse desembarcado direto nesse formato, sem qualquer experiência prévia, certamente teria sido um desastre. Não que isso seja uma regra, pois sem dúvida existem diretores que estreiam direto no longa e são bem sucedidos, só acho que não me encaixo muito nesse perfil. Bati muita cabeça com meus curtas, e desses sete que eu mencionei, só gosto verdadeiramente de três (e olhe lá). Mas depois que dirigi "Ratão" (2010), finalmente me senti habilitado a dar um passo maior na minha carreira de realizador.”

Dellape fala abertamente sobre os erros e acertos de sua jornada, e essa honestidade também pode ser vista quando fala sobre Repartição do Tempo, ao qual se refere como um filme de Sessão da Tarde. O que isso significa? “Na minha visão, um "filme de Sessão da Tarde" é antes de tudo um filme cuja pretensão maior é divertir e entreter o público com qualidade, muito mais do que necessariamente reinventar a linguagem cinematográfica”, afirma o diretor. “Esse subgênero, vamos chamar assim, sempre muito associado a filmes de comédia e aventura dos anos 80, representou meu primeiro contato com a sétima arte, ainda criança, assistindo à TV aberta depois da escola.”

“Todos esses são filmes com os quais tenho um vínculo afetivo muito forte: Goonies, Curtindo a Vida Adoidado, Te Pego Lá Fora, Feitiço do Tempo, Gremlins, Aventureiros do Bairro Proibido, De Volta para o Futuro, e muitos outros que, em maior ou menor grau, sempre acabam reverberando nas minhas produções.” Essas influências de Dellape ficam claras quando prioriza o entretenimento para criar um filme despretensioso, sempre combinando-as com sua realidade: a burocracia e as papeladas de uma repartição pública em Brasília.

Repartição do Tempo já está em cartaz nos cinemas. Leia a crítica do filme aqui.

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