Conhecido por ter criado o delegado Espinosa, que protagoniza seus romances policiais, Luiz Alfredo Garcia-Roza abriu espaço para uma heroína em sua obra em 2005, em Berenice Procura, e o livro agora vai ao cinema com Cláudia Abreu no papel da taxista Berenice. O longe tem nesta sábado a sua sessão de gala no Festival do Rio.
Allan Fiterman (Embarque Imediato) dirige o filme, que põe a Berenice de Garcia-Roza em meio à investigação da morte de uma transsexual. "Interssou mais pra mim ver Berenice como mulher do que como heroína, pois eu queria entender a rotina de alguém que batalha pra viver em meio a um casamento em crise e ao compromisso com um filho que está descobrindo sua sexualidade", diz Fiterman, que explora as lacunas existenciais desenvolvidas por sua protagonista ao longo de anos de falta de tolerância e de harmonia sexual em sua casa, no dia a dia com o marido (Eduardo Moscóvis).
É na rua, no lado B de Copacabana, que Berenice faz as pazes com seu desejo, ao mesmo tempo em que investiga um crime, mesmo sem ter perícia policial. "Existe aqui um trama sobre crise de identidade, com alguém que reconstrói a vida pra seguir em frente após descobrir um assassinato", diz o diretor, que destaca o desempenho da jovem atriz trans Valentina Sampaio em seu elenco. "Ela cresce nas cenas. E o megulho que fizemos na questão trans fez do filme um laboratório sobre gêneros, além de ter tornado a história de Berenice mais atual."
Filmar Berenice Procura deu a Fiterman contato com um Rio mais selvagem. "A beleza carioca é impagável, mas sua noite tem um glamour quase lúdico no contraste entre trevas e luz", diz o diretor. "Eu me foquei mais no ambiente humano do que na geografia física da cidade em si, e fiz uma mistura dos atores com drags, com não-atores."
Depois de passar pelo Festival do Rio, Berenice Procura chega aos cinemas em abril de 2018.
