Ana de Armas como Marilyn Monroe em Blonde

Créditos da imagem: Divulgação

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Blonde decepciona com Marilyn Monroe sem alma

Caracterização de Ana de Armas é bem-feita, mas, mesmo com três horas de duração, longa de Andrew Dominik não traz nada de novo

Omelete
2 min de leitura
08.09.2022, às 16H11.

É difícil fazer um filme sobre alguém famoso como Marilyn Monroe. Quase tudo foi dito, destrinchado, especulado. Mas a verdade é que sempre dá para ter um ponto de vista novo sobre aquela pessoa. Blonde, de Andrew Dominik, que estreou na noite desta quinta-feira (8), na competição do 79º Festival de Veneza, tinha chance de fazer isso, baseando-se no elogiado romance de Joyce Carol Oates que humaniza a estrela de Hollywood, símbolo de feminilidade e de sexo.

Blonde começa na infância traumática de Norma Jeane (Lily Fisher), criada por sua mãe, Gladys Pearl Baker (a ótima Julianne Nicholson), uma mulher mentalmente instável. O pai, ela nunca conheceu, mas, no filme, nunca perde a expectativa de saber quem é.

O trauma, parece dizer o filme, a acompanha pela vida inteira. Parece porque o ponto de vista de Blonde não é muito claro. Foi isso que a fez casar-se com homens aparentemente tão diferentes quanto O Ex-Atleta (referência a Joe DiMaggio, interpretado por Bobby Cannavale) e O Dramaturgo (ou Arthur Miller, vivido por Adrien Brody)? De fato, Marilyn (Ana de Armas) chama os dois de “Papai”. Não há tempo para isso. Apesar de suas três horas de duração, Blonde pula de um momento cruel para outro, sem se fixar em nada.

O filme também parece querer falar sobre como a personagem Marilyn Monroe engoliu Norma Jeane. A atriz só parece ser ela mesma no triângulo formado com Cass Chaplin (Xavier Samuel) e Eddy G. Robinson Jr. (Evan Williams), rompido por ter causado escândalo.

No resto, Marilyn Monroe parece apenas uma carcaça, desconectada de vida humana. O problema é que isso também desconecta o espectador da personagem. Nem dá para saber se Ana de Armas está bem ou não – ela realmente se parece muito com Marilyn em determinados momentos, pois o trabalho todo de caracterização é bem-feito. Mas falta alma ali. Só para comparar, pode-se acusar Elvis, de Baz Luhrmann, de muitas coisas, mas não de falta de alma.

O filme acaba transformando Marilyn Monroe na série de tragédias de sua vida – trauma de infância, ida para orfanato, estupro pelo chefão de um estúdio, casamentos fracassados, uma relação patética com O Presidente (ou John Fitzgerald Kennedy, vivido por Caspar Phillipson), vários abortos, naturais ou não, vício em remédios.

Por mais que a vida de alguém seja trágica, ela não é só isso. Marilyn Monroe, a personagem de Blonde, é apenas uma vítima sem voz, como Marilyn Monroe, a pessoa, morreu sendo aos olhos da opinião pública. Para um filme que pretendia oferecer uma visão de acordo com nossos tempos, ou seja, mais complexa, é uma decepção.

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