Primeiro dos 21 candidatos à Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2018, Todos Lo Saben conseguiu dois feitos desastrosos para quem tem no elenco estrelas do porte de Penélope Cruz, Ricardo Darín e Javier Bardem: a) reduzir seus atores a situações caricatas; b) arrancar risadas de desdém em momentos em que se esperavam soluços de dor.
Ganhador de dois Oscars, por A Separação (2011) e O Apartamento (2016), o iraniano Asghar Farhadi tinha tudo na mão para construir uma obra-prima, mas frustrou a Croisette com um show de esquematismos. Seu filme é formulaico do começo ao fim, sem se aprofundar em nenhum dos personagens, alcançando a façanha de despir Darín de seu carisma habitual. Projetado para imprensa quase que simultaneamente à exibição de gala, com direito a cineastas do naipe de Martin Scorsese e Costa-Gavras na sala, o longa-metragem é de um requinte visual inegável, graças à fotografia de José Luis Alcaine, parceiro de Pedro Almodovar em A Pele Que Habito e outros sucessos. Mas não vai além disso e do empenho de Bardem.
Ficou um clima pesado ao fim da exibição, parte pela frustração, parte pelo tom do enredo em si. Muitos jornalistas debandaram da sala, sobretudo na cena de uma revelação que extraiu gargalhadas de constrangimento.
Orçado em 10 milhões de euros, esta produção multinacional rodada em Madri, na Espanha, tem como eixo um sequestro. Laura (Cruz) vive na Argentina com o marido, o ex-alcoólatra e hoje carola fervoroso Alejandro (Darín). Eles têm dois filhos. Cabe a ela voltar à casa do pai, na Espanha, para um casamento. No país, sua filha adolescente, Irene, é sequestrada. Resta a um ex de juventude, Paco (Bardem), ajudar no resgate. Daí pra frente, basta ligar os ponto, porque tudo vira obviedade. Existe uma potente discussão sob luta de classes nos bastidores da relação entre Laura e Paco, mas nada é aprofundado.
Cannes merecia um começo melhor.
