Festival de Cannes | Diretor polêmico, Xavier Dolan bota a nata do cinema francês nas telas
Juste La Fin Du Mode bota o diretor como favorito ao prêmio de direção
Menino-prodígio do cinema autoral, com apenas 27 anos e um currículo vasto de prêmios e polêmicas, por sua postura incontrolável, o canadense Xavier Dolan (de Mommy) voltou a impressionar a Croisette com seu sexto (e visualmente mais elegante) longa-metragem, Juste La Fin Du Monde, que projetou a nata da industria audiovisual francesa na telona do 69° Festival de Cannes, em posição de destaque na disputa pela Palma de Ouro.
O fato de ter Léa Seydoux (a bondgirl de Spectre), Marion Cotillard (de Macbeth) e Vincent Cassel (Cisne Negro) em papéis de destaque num drama baseado em peça homônima de Jean-Luc Lagarce (1957-1995) – o dramaturgo contemporâneo mais encenado do teatro francês – já bastou para dar à produção atenção especial da imprensa europeia, justificada pela potência visual habitual de seu diretor, aqui depurada por uma fotografia mais sóbria. Cassel, que é darling em Cannes, viu subir seu cacife para o prêmio de melhor ator (que tem Adam Driver como favorito, por Paterson), na pele de um brutamontes inconformado por reencontrar o irmão mais moço (Gaspard Ulliel). Os aplausos se mantiveram numa linha crescente em resposta à intensidade dos confrontos do longa, que embalou Cannes com a versão original, romena, do hit Festa no Apê, que se chama Dragostea Din Tei, ressaltando o lado pop de Dolan.
Releitura de um texto teatral autobiográfico de Lagarce, encenado no Brasil em 2006, com Simone Spoladore e Lourinelson Vladimir, a versão cinematográfica de Juste La Fin Du Monde traz um Dolan mais contido, reverente (em demasia) à estrutura da peça. Tudo consiste num bate-boca contínuo entre os integrantes de uma família que vai receber o filho homem mais jovem, sumido há 12 anos, por conta de sua dedicação aos palcos, no exterior. Eles não sabem, contudo, que o filho pródigo tem uma doença terminal e decidiu voltar apenas para compartilhar com seus parentes a sua decadência física, visível já no rosto (maquiado) de Ulliel. Cannes não dava um pio diante das cenas de lavação de roupa suja entre os personagens, no qual Cassel e Seydoux, na pele de um casal de irmãos do protagonista, roubaram cada segundo do olhar do público para si.
Já se fala em um prêmio de direção para Dolan na cerimônia de premiação, agendada para domingo, tendo como favorito Paterson, de Jim Jarmusch. Mas o prestígio de Aquarius – o concorrente do Brasil à Palma - por aqui só faz crescer, aumentando as chances de Sonia Braga receber o prêmio de melhor atriz. As revistas locais estão dando cotações altas para o filme, em seu ranking diário. Hoje, durante a coletiva de imprensa, o diretor Kleber Mendonça Filho ouviu vários jornalistas europeus classificarem seu longa como “o melhor do festival”. Resta esperar…