Brasileiros voltam a Cannes com força em 2023

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Brasileiros voltam a Cannes com força em 2023

Karim Aïnouz, com a produção inglesa Firebrand, e Kleber Mendonça Filho, com o documentário Retratos Fantasmas, foram alguns dos destaques nacionais na 76ª edição

Omelete
3 min de leitura
27.05.2023, às 18H30.

Depois da ausência total de Brasil no Festival de Cannes do ano passado, o país voltou a ocupar vários lugares na 76ª edição. 

Na competição, Karim Aïnouz (A Vida Invisível de Eurídice Gusmão) fez um drama de época sólido, desempoeirado, sobre Catherine Parr (Alicia Vikander), a última mulher do rei Henrique 8º (Jude Law) e a única a sobreviver à sua tirania no casamento e no reino. Firebrand, que saiu sem prêmios, foi um convite, e não um trabalho originado por Aïnouz. Mesmo assim, o diretor conseguiu imprimir sua marca, sem-cerimônia ao mostrar as cenas domésticas, até dentro de um palácio, e uma vontade de captar a atmosfera que parece até trazer cheiros à tela.

“Eu tive hesitações porque não sou uma pessoa que acredita na monarquia como ela existe hoje. Eu fiquei na dúvida se queria fazer um filme sobre reis e rainhas”, disse Karim Aïnouz em entrevista ao Omelete. “Mas conforme eu fui mergulhando no tema, eu vi que tinha algo que eu podia reescrever sobre esses reis e rainhas que podia ser interessante para o mundo de hoje. Topei porque havia algo ali na personagem da última mulher do rei Henrique 8º, que foi um tirano. Isso me animou de poder celebrar uma personagem que nos anais da história estava completamente apagado.”

Aïnouz tentou filmar como faz no Brasil, promovendo ensaios. “E acho que a gente trouxe um bom humor no set também”, disse o cineasta. Ele também imprimiu um olhar cotidiano e íntimo das intrigas palacianas: “Fazia sentido se a gente olhasse a monarquia não como seres superiores, mas como gente como a gente. Todo o mundo escova dente, não importa se é rei ou não.”

Também na competição, a atriz brasileira Carol Duarte, que trabalhou com Karim Aïnouz em A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, faz parte do elenco de La Chimera, da italiana Alice Rohrwacher

Na mostra Um Certo Olhar, A Flor do Buriti, de João Salaviza e Renée Nader Messora, levou o troféu de melhor conjunto. O longa-metragem recupera a luta do povo Krahô e conta com a participação de indígenas no elenco e na equipe. É um belo registro audiovisual de uma história desconhecida pela maioria.

Kleber Mendonça Filho voltou a Cannes, nas Sessões Especiais, com Retratos Fantasmas. “É um filme sobre cidades, no caso Recife, e sobre a relação que as pessoas têm como as cidades. Como as cidades vão mudando, um pouco como a gente. Tudo isso a partir do cinema”, disse o cineasta ao Omelete. 

O longa, dividido em três partes, começa no apartamento em que Mendonça Filho viveu grande parte de sua vida e que foi cenário de várias de suas obras. Os filmes documentam as mudanças pelas quais a casa e o bairro passaram. Em seguida, ele fala do centro do Recife e da decadência das salas de cinema da região. 

É um projeto bem diferente de Bacurau, mas Mendonça Filho contou estar pensando em uma sequência com seu co-diretor, Juliano Dornelles. “A gente gosta muito daquele universo. Espero que dê tudo certo, e a gente trame algo bom.” Antes disso, ele roda, no ano que vem, Agente Secreto, com Wagner Moura. “É um thriller que se passa no Recife em 1977. Não é sobre a ditadura. É sobre a lógica do Brasil. O país tem uma certa lógica, que me interessa muito e está em todos os meus filmes. E essa lógica é engraçada, aterrorizante, revoltante e maravilhosa. É como eu vejo o meu país. O problema é que você nunca sabe o que vai receber dessa lógica dependendo da hora. Eu gosto muito da lógica do Brasil e ao mesmo tempo tenho medo.”

A delegação brasileira também contou com Levante, de Lillah Halla, que levou o Prêmio da Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema) para melhor filme de estreia de qualquer uma das seções paralelas, o documentário Nelson Pereira dos SantosVida de Cinema, de Ivelise Ferreira e Aída Marques, e o curta-metragem Solos, de Pedro Vargas, na Cinef, dedicada a projetos feitos em universidades. 

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