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Festival de Berlim | Romance húngaro ambientado em matadouro conquista o Urso de Ouro

On Body and Soul conquista o grande prêmio do festival de cinema

18.02.2017, às 16H28.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Deu Hungria – e deu amor - na cabeça no encerramento do 67º Festival de Berlim: o Urso de Ouro ficou com o romance On Body and Soulda diretora Ildikó Enyedi, no qual uma taciturna supervisora de qualidade e um administrador de empresas (cujo braço tem uma paralisia) constroem um relacionamento em um matadouro.

On Body and Soul

Este filme é um copo d’água: simples, mas necessário. Um filme sobre generosidades que se aproximam”, disse a diretora, acolhida pelo júri presidido pelo cineasta holandês Paul Verhoeven (ganhador do Globo de Ouro por Elle, em janeiro)

Exibido no segundo dia do festival, com aceitação elogiosa, mas sem muito alarde, On Body and Soul foi o filme mais laureado do evento, tendo sido galardoado também pelo Júri Ecumênico, o júri dos leitores do jornal alemão Berliner Morgenpost e o júri de críticos da Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (a Fipresci). Este último premiou ainda o longa nacional Pendular, de Júlia Murat, presente numa seção paralela

Tratado humanitário sobre sobrevivência, de amores e de honras, a produção franco-senegalesa ambientada no Congo Félicité, de Alain Gomis, recebeu o Grande Prêmio do Júri, por seu retrato para a peleja cotidiana de uma cantora para salvar seu filho.  “Com esta vitória, nós conseguiremos chamar a atenção de um público amplo e levar a ele a história de pessoas que têm a capacidade de suportar dos dilemas da vida”, disse Gomis

Encarado por dias a fio como “o” favorito do evento, On The Other Side of Hope ficou com o prêmio de melhor diretor, para o mestre finladês Aki Kaurismäki, que deu uma certa esnobada nos jurados, descendo com seu troféu para seu lugar, sem falar nada, num ato de provocação típico realizador. Conhecido no Brasil por filmes como O Homem Sem Passado (2002) e A Garota da Fábrica de Caixas de Fósforos (1990), o cineasta de 59 anos é um dos diretores mais premiados do Velho Mundo nas últimas três décadas, celebrizado por uma estética hipercolorida, nas raias da caricatura, sempre irônica e de baixíssimo orçamento para padrões europeus. Em seu novo filme, orçado em 1,6 milhões de euros, um jogador de pôquer (Sakari Kuosmanen) ganha uma bolada no carteado e decide montar um restaurante onde vai acolher um refugiado sírio (Sherwan Haji). “Hoje os outros são os refugiados, mas, amanhã, o refugiado pode ser você”, disse Kaurismäki.

Com On Body and Soul, concorreram 17 longas, definidos pelo diretor do Festival, o professor Dieter Kosslick, como “esforços de mostrar como o mundo está, a fim de salvar o que existe de poético nele”. Poesia é o que rege Ana, Mon Amour, produção romena sobre o que existe de tóxico nas relações amorosas, laureada com o prêmio de Contribuição Artística para a montadora Dana Bunescu, anunciado pelo próprio presidente do júri, que confiou o Troféu Alfred Bauer (dedicado a novas perspectivas de narrativas ou de temas) à polonesa Agnieszka Holland e seu thriller Spoor.    

Além de Verhoeven, compuseram o time de jurados a produtora tunisiana Dora Bouchoucha Fourati, o artista plástico islandês Olafur Eliasson, as atrizes Maggie Gyllenhaal (EUA) e Julia Jentsch (Alemanha), o ator e diretor mexicano Diego Luna e o cineasta chinês Wang Quan'an. Por consenso deles, o melhor roteiro ficou com o drama chileno Una Mujer Fantástica, de Sebastián Lelio Gonzalo Maza, sobre as agruras de uma mulher trans, a cantora Marina (Daniela Vega), vítima de toda a sorte de homofobias após a morte de seu namorado. A produção conquistou ainda o Troféu Teddy (mais famosa láurea LGBT do cinema autoral) e uma menção honrosa do Júri Ecumênico.

Temos que enfrentar a idade das trevas que enfrentamos hoje com poesia”, disse o roteirista Gonzalo Maza, dedicando a vitória à sua estrela.

Considerado por muitos o pior filme da Berlinale, o drama alemão Bright Nights rendeu – sabe-se lá por que motivo - o prêmio de melhor ator a Georg Friedrich, por seu desempenho como um pai empenhado em reaver o amor do filho adolescente. Igualmente desprezado por muitos foi o drama sul-coreano On The Beach At Night Alone, mas, apesar disso, ele recebeu um troféu, o de melhor atriz, dado a Kim Monhee, contrariando a torcida formada em torno de Daniela Vega

 

  • Urso de Ouro: On Body and Soul, de Ildikó Enyedi (Hungria)
  • Grande Prêmio do Júri: Félicité, de Alain Gomis
  • Direção: Aki Kaurismäki (On The Neach At Night Alone)
  • Roteiro: Sebastián Lelio Gonzalo Maza por Una Mujer Fantástica
  • Troféu Alfred Bauer (inovação de linguagem): Spoor, de Agnieszka Holland
  • Atriz: Kim Monhee (On The Beach At Night Alone)
  • Ator: Georg Friedrich (Bright Nights)
  • Contribuição Artística: a montadora Dana Bunescu, pela edição de Ana, Mon Amour
  • Urso de Ouro de Curta-Metragem: Cidade Pequena, de Diego Costa Amarante (Portugal)
  • Prêmio do Júri de Curtas: Ensueño en la Pradera, de Esteban Arrangoiz (México)
  • Prêmio Audi de Curtas: Street of Death, de Karam Ghossein (Líbano)
  • Menção Honrosa de Curtas: Centauro, de Nicolás Suárez (Argentina)

 

  • Melhor Longa de Estreante: Summer 1993, de Carla Simon
  • Prêmio Glashütte de Documentário: Ghost Hunting, de Raed Andoni (Palestina)
  • Prêmio da Crítica (Fipresci): On Body and Soul (Hungria), de Ildikó Enyedi, na competição oficial, e Pendular (Brasil) na mostra Panorama 
  • Prêmio do Júri Ecumênico: On Body and Soul, com menção honrosa para Una Mujer Fantástica, de Sebastián Lélio (Chile)
  • Teddy (troféu LGBT): Una Mujer Fantástica

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