Montagem da coluna de Marcelo Hessel

Créditos da imagem: Omelete/Divulgação

Prime Video

Lista

Dicas do Hessel #027 | Filmes clássicos no Prime Video

De O Homem do Braço de Ouro a Os Invasores de Marte

Omelete
5 min de leitura
09.10.2020, às 10H00.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H48

Quando se fala de “filmes antigos”, que década vem à cabeça? O cinema se encaminha para completar aí 130 anos de existência, mas a julgar pela oferta dos streamings daria pra dizer que tem pouco mais da metade disso. Já que discutimos o apagamento de identidade e memória o tempo todo, parece importante colocar no meio disso o cinema que consumimos hoje e como valorizamos (ou não) o nosso passado.

O catálogo do Amazon Prime Video não é nenhum primor de garimpagem histórica mas tem algumas pérolas, e as Dicas do Hessel desta semana selecionam por lá sete longas-metragens produzidos e lançados nos anos 1950. É uma década de transição para Hollywood, com os grandes cinemas já ameaçados pela TV e pela migração das famílias ao subúrbio, e com a explosão criativa do cinema europeu, principalmente na Itália, e do japonês. Nessa quase crise, os EUA souberam produzir muita coisa com uma pegada mais autoral - o que fica latente nas sugestões abaixo.

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O Homem do Braço de Ouro

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Uma resposta do cinema americano ao neorrealismo e ao cinema de vanguarda europeu foi a vertente - que muitos chamam de realismo americano - que tratou frontalmente de temas sociais mais contundentes, como prostituição, violência doméstica, alcoolismo e abuso de drogas. Lançado em 1955, O Homem do Braço de Ouro é um marco dessa vertente, e talvez seja o filme mais celebrado em Hollywood do cineasta austríaco Otto Preminger, um mestre da mise-en-scéne e do controle de câmera que soube transcender como ninguém os espaços dos estúdios fechados sem necessariamente partir para filmar em ambientes abertos. Das três indicações do filme ao Oscar, uma foi para Frank Sinatra, que faz o protagonista viciado em uma droga injetável (que o livro identifica como morfina mas no filme tem as características do vício em heroína) que não consegue se livrar da reincidência, e se descobre cercado por relações afetivas e de trabalho que reforçam o vício.

Cinderela em Paris

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Lançado em 1957, num período crucial na carreira de Audrey Hepburn em que a atriz começou a mostrar seu alcance dramático e técnico (ela canta por conta própria nos números musicais do filme), Cinderela em Paris não deixa de ser, também, um reflexo desse encantamento americano com as vanguardas europeias. A trama segue uma livreira intelectual que é convencida a virar modelo, com a oportunidade de conhecer Paris. Ao mesmo tempo em que tudo gira em torno de temas locais (das gags com a boemia à coreografia de Fred Astaire emulando um estilo dândi de ser) as dinâmicas são muito particulares dos EUA da época, em que o mundo das mulheres se dividia entre as moças “com cérebro” (que focavam num ofício) e as leitoras de revistas (que almejavam o paraíso das donas de casa).

Os que Sabem Morrer

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Vinda na ressaca da Segunda Guerra Mundial, a Guerra da Coreia não é tão presente no imaginário do cinema hollywoodiano; com exceção de clássicos como Capacete de Aço (1951) e Os que Sabem Morrer (1957), esses filmes acabaram diminuídos diante dos relatos do Holocausto. Ainda assim, o filme de Anthony Mann é um clássico dos olhares desesperados sobre a guerra; não chega a ser um libelo pacifista, mas seu ponto de vista é francamente libertário (o exército decidiu não cooperar com o filme por causa do retrato do regimento de infantaria descontrolado, por exemplo). O foco de Mann é engrandecer as figuras humanas, e é muito emocionante como ele usa close-ups para aproximar personagens, mesmo quando estão em primeiro ou segundo plano no enquadramento.

Não Somos Anjos

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Michael Curtiz fez em 1955 esta rara comédia estrelada por Humphrey Bogart, sobre três ex-presidiários que fogem da colônia penal da Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, e se metem num imbróglio com a família de um lojista enquanto esperam o barco que pode tirá-los da vila em direção à liberdade. A trama se passa no Natal e o clima é de filme-família, mas a velocidade dos diálogos maliciosos e das tiradas de duplo sentido oferece uma experiência plenamente prazerosa para quem sempre acompanhou Bogart trocando falas cortantes em seus filmes policiais noir. Uma pequena aula de como fazer um filme essencialmente numa única locação, sem parecer teatralizado demais.

Guerreiros em Luta

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Dos cineastas que ajudaram a definir a gramática do cinema - particularmente a partir do trabalho de dentro do sistema de estúdios de Hollywood - o canadense Allan Dwan foi um dos últimos a ter seu papel plenamente reconhecido pela crítica como um esteta da linguagem, em cerca de 120 filmes feitos entre 1910 e 1960. Este faroeste de 1957 é um excelente exemplo da simplicidade de Dwan para definir pontos de vista e encontrar sínteses visuais do perfil psicológico dos seus personagens. Esse controle é central para consumar a vocação psicologizante desta história, sobre um pistoleiro que se perde na sua jornada para vingar o pai, um xerife morto numa cidade de fronteira sem lei.

Saint Joan

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Neste ano o Prime Video colocou no catálogo um pacote de quatro filmes dirigidos por Otto Preminger, e além de O Homem do Braço de Ouro também é imperdível conferir este épico histórico que reconta a lenda de Joana d’Arc, lançado em 1957. Preminger teria testado 18 mil candidatas até escolher Jean Seberg para o papel principal - marcando assim a estreia no cinema da atriz americana que, na década seguinte, se tornaria um dos símbolos da Nouvelle Vague francesa. Seberg incorpora perfeitamente a “santa” que lidera o exército francês na Guerra dos Cem Anos e depois termina queimada como herege, e o roteiro de Graham Greene, baseado na peça homônima de George Bernard Shaw, traça paralelos interessantes com a Segunda Guerra Mundial ao organizar a trama como um longo flashback de reflexão política.

Os Invasores de Marte

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Seria negligência fazer uma lista dos anos 1950 e deixar de fora os populares filmes B de ficção científica, que frequentemente adaptavam o medo do perigo comunista em tramas metafóricas de invasão alienígena. A concorrência era tal que a produção de Os Invasores de Marte foi apressada para a estreia acontecer nos cinemas em 1953 nas sessões duplas antes de A Guerra dos Mundos, então, tecnicamente, este filme é o primeiro a mostrar marcianos e seus OVNIs em cores (muitos tons de verde) no cinema.

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